dezembro 2015 - Blog ContabilidadeMQ

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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Coisas assim realmente acontecem de verdade. Por isso é importante que Professores e Pesquisadores mantenham redes sociais, blogs etc, para reduzir a distância entre a pesquisa/ensino e a prática. Utilizando esses meios de comunicação, nós podemos traduzir aquelas estatísticas e termos técnicos todos para uma linguagem que diversas pessoas possam entender. Essa é a ideia!

Veja a explicação aqui, caso não tenha entendido.

https://xkcd.com/882/

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Deveria ter feito essa postagem há algum tempo, mas só após o término do doutorado estou conseguindo escrever. Ao tratar do ajuste fiscal, o ex-ministro da fazenda Joaquim Levy e o atual (Nelson Barbosa), afirmaram que era necessário estancar o crescimento das despesas de caráter continuado, em especial com o funcionalismo público. Algumas medidas foram tomadas, como o congelamento dos reajustes dos servidores e a suspensão de concursos públicos. 

Sou um grande crítico à ausência de avaliação de desempenho e à falta de incentivos baseados na meritocracia no serviço público. Esses fatores, somados a mais alguns, conduzem a subutilização dos servidores públicos e ao aumento de ineficiências.

Não tenho dúvidas que é possível reduzir tais ineficiências, mas o aumento dos gastos com o funcionalismo público é mesmo uma das causas do desequilíbrio fiscal do país?! Essa é a questão!

A administração pública dispõe de alguns indicadores para avaliar os gastos com pessoal de um país. A proporção desses gastos em relação ao PIB é um dos principais, mas vou restringir a análise ao indicador estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que toma a Receita Corrente Líquida (RCL) como referência.

O Art. 19 da LRF estabelece que a despesa total com pessoal da União, em cada período de apuração, não poderá exceder o percentual de 50% da RCL. Tal limite é desmembrado em: 2,5% para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas da União; 6% para o Judiciário; 40,9% para o Executivo; e 0,6% para o Ministério Público da União.

Para verificar o índice de gastos com pessoal da União, acessei o Relatório de Gestão Fiscal (RGF), no qual é possível verificar o Demonstrativo da Despesa com Pessoal. O índice apresentado consiste no quociente entre os gastos com pessoal e a RCL arrecadada no período.

Ano
Percentual
2002
25,26
2003
24,34
2004
22,65
2005
21,03
2006
21,45
2007
20,46
2008
21,87
2009
24,34
2010
24,22
2011
23,80
2012
21,68
2013
22,94
2014
25,12

A série histórica começou em 2002 com o percentual de 25,26% e decresceu até 20,46% no ano de 2007. Na sequência, o percentual cresceu até 25,12% em 2014. Aparentemente, o crescimento do indicador nos últimos dois anos indica um aumento das despesas com pessoal e encargos sociais. Mas ao analisar a evolução desses gastos e da receita corrente líquida ao longo dos anos, podemos fazer algumas análises. Todos os valores foram atualizados para 2014 levando em consideração a taxa de inflação (IPCA).




Avaliando a série da RCL, percebe-se que a série decresceu em dois períodos: 2009 e 2014. Em 2009, a crise financeira internacional afetou o Brasil e derrubou a arrecadação. Já em 2014, as renuncias de receitas, caracterizadas por isenções tributárias e demais incentivos econômicos, também afetaram a arrecadação federal.

Justamente nesses dois anos, o índice de pessoal apresentou um valor relativamente alto. O que se pode concluir é que o aumento do índice de pessoal em 2014, assim como em 2009, não teve origem em aumentos significativos nos gastos com servidores públicos e sim em reduções na Receita Corrente Líquida, que consiste na referência para o cálculo de tal índice.

Nesse sentido, nós, servidores públicos, não somos os culpados pelo desajuste fiscal que vivemos. Mas, efetivamente, o governo federal tem gastado um percentual maior da RCL com os gastos com pessoal e encargos sociais.

Deve-se questionar se esse impacto foi previsto pelo governo. O Art. 14 da LRF estabelece que “a concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes.” Essa renúncia de receita ainda deve “estar acompanhada de medidas de compensação por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição”.


Então, mais uma vez voltamos a questão do planejamento público (ou a ausência dele). O governo trabalha para resolver problemas pontuais. E assim vamos seguindo. Infelizmente!!!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Ontem eu tive a grata satisfação de receber um email informando que o primeiro artigo da minha tese havia sido finalmente publicado. Hoje recebi outro email, informando que um outro artigo com tema relacionado com a minha tese também havia sido publicado.

O artigo de hoje analisou o impacto da utilização das redes sociais no preço e na volatilidade das ações de empresas listadas no Brasil e nos EUA. Esse artigo foi baseado na monografia de meu ex-orientando, agora aluno de mestrado, Marcelo Paulo de Arruda

Esse tema é muito importante para as empresas e investidores, pois as redes sociais são muito usadas e podem afetar os preços dos ativos (haja vista o exemplo da OGX e um mais geral com diversas empresas) e a CVM já discute, fiscaliza e regulamenta de alguma forma o uso de internet para divulgação de informações (exemplos aqui e aqui). De forma geral, os resultados da pesquisa apontaram que as redes sociais podem reduzir a volatilidade (assimetria informacional) das ações das empresas listadas no mercado de capitais, sendo importante que a CVM continue a fiscalizar e a melhorar a regulamentação do uso das redes sociais por parte das empresas e seus diretores.


NOSSA NADA MOLE VIDA:

Um dos fatos interessantes relacionados a esse artigo é que ele foi execrado por um avaliador do resumo expandido do Congresso da USP de 2014. O avaliador disse que o artigo não tinha nenhuma contribuição a dar para a área. Eu comentei sobre isso no Facebook, quando um doutorando de lá me enviou um artigo recém aceito na The Accounting Review (TAR), sobre a mesma coisa que estávamos fazendo, porém com uma metodologia diferente. Se a TAR publica coisas irrelevantes... o que podemos fazer?

Após ser execrado no Congresso da USP de Contabilidade, ganhamos o prêmio no SemAd (de Administração da USP), onde obtivemos fast track na Revista de Contabilidade & Finanças da USP e agora estamos com ele publicado lá. O mundo dá voltas e não temos como entender a cabeça dos avaliadores. Contudo, sobre essas pesquisas mais inovadoras, que não tem muita coisa publicada sobre o assunto, recomendo que leiam esse post: Ohlson não publicaria seu artigo no Brasil.



ABSTRACT
Increasing globalization has meant the internet becoming ever more part of the routine of people around the world. With the evolution of the internet, social networks have emerged in order to facilitate communication between people, communities and even between corporations. Social networks offer companies a way of instantly releasing information, allowing those who use this information greater flexibility when searching for news about the companies in which they have invested or wish to invest. In this context, the objective of this study was to analyze how social networks (Facebook, Twitter and Youtube) affect levels of information asymmetry and the pricing of shares for Brazilian and U.S. public companies during 2012. To achieve the proposed goal, the conceptual framework of the Ohlson model (1995) was used to verify whether the information posted on social networks affects the pricing of shares, and share price volatility was used as a proxy for information asymmetry. The sample included 170 Brazilian companies listed on the BM&FBOVESPA and 100 companies listed on the U.S. stock market in 2012. The results show that social networks can affect levels of information asymmetry in these markets, but only "unofficial" Facebook affects the pricing of shares for companies in the Brazilian stock market, although sensitivity analysis indicated that the groups that use and those that do not use Facebook do not exhibit different average returns. Thus, investors should not use this information to devise strategies to generate better returns. Palavras-chave: social networks, information asymmetry, pricing of shares.

Palavras-chave: social networks, information asymmetry, pricing of shares

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Seguindo a linha do Professor José Elias Feres de Almeida (UFES), antes de falar sobre o artigo, alertando sobre o tempo que se leva para fazer pesquisa (no caso dele, foi citado pelo menos 2,5 anos), no caso desse nosso artigo foram, por baixo, 3 anos também. A ideia surgiu quando eu estava escrevendo minha dissertação do mestrado e conhecendo mais sobre a regulação do insider trading (legal) no Brasil (meados de 2012).

Agora vamos ao conteúdo da pesquisa. Esse foi o primeiro artigo sobre o tema da minha tese, escrito durante o primeiro ano do doutorado (2013) e apresentado no XIV Congresso USP (2014). O artigo pode ser acessado tanto em português quanto em inglês (Insider Trading B-side: relevance,timeliness and position influence). 

Resumindo de forma traduzida (para que pessoas de fora dessa área possam entender mais facilmente a ideia):

Esse artigo traz à tona o "lado B do insider trading", lado que é um pouco esquecido pelas pessoas e, me parece, principalmente pelo órgão regulador do nosso mercado de capitais (a CVM). Quero deixar claro que nós não estamos estimulando a utilização (ilegal) de informações privadas, todavia nós pressupomos que a negociação de ações por insiders (pessoas de dentro da empresa que podem ter acesso a informações privilegiadas) existem e podem ocorrer legalmente ou ilegalmente. 

O problema da negociação legal dos insiders é que nós, os outsiders (pessoas que estão fora da empresa, como investidores, credores etc), só sabemos dessas negociações com muitas semanas de atraso (podendo chegar a 40 dias, aqui no Brasil). Ou seja, o insider poderá gerenciar os prazos para divulgação de fatos relevantes para poder negociar com ações da empresa dentro do prazo legalmente estabelecido por regulamentação da CVM.

Sendo assim, esse artigo critica a regulamentação dada pela Instrução CVM 358 e mostra algumas evidências, através de um experimento, que isso realmente é um problema para o mercado de capitais, pois as negociações dos insiders parecem ser importantes para os investidores.

Críticas e sugestões ainda são bem vindas, mesmo que o artigo já esteja publicado, pois ainda estou trabalhando nesse tema na minha tese de doutorado e pretendo fazer outro experimento abordando outras coisas que não foram tratadas neste artigo.


Objetivo – Analisar o impacto das negociações dos insiders nas decisões dos investimentos em ações.

Método – Aplicaram-se questionários online, obtendo-se 271 respostas válidas. Nas análises foram utilizados alguns testes estatísticos paramétricos (t e F Anova) e não paramétricos (Mann-Whitney e Kruskal-Wallis). 

Fundamentação teórica – A pesquisa foi fundamentada na Teoria do “Equilíbrio do Desequilíbrio” de Grossman e Stiglitz (1980), sobre a impossibilidade de os preços nos mercados de capitais serem eficientes, contudo à medida em que os agentes informados negociam seus ativos munidos de informações privilegiadas, mais informativo se torna o sistema de preços, visto que mais informações serão divulgadas indiretamente por meio dos preços dos ativos. 

Resultados – Os resultados da pesquisa apontaram que as negociações dos insiders são relevantes para as decisões de investimentos dos demais investidores e, ainda, que a tempestividade dessas informações também exerce influência em tais decisões, sendo as negociações anormais aquelas que têm maior influência nas decisões de investimentos em ativos de risco pelos respondentes. Ratifica-se, então, a teoria de Grossman e Stiglitz (1980), pois os resultados sugerem que as negociações dos insiders adiciona informatividade ao sistema de preços das ações. 

Contribuições – As principais contribuições do estudo estão relacionadas com as evidências em favor do Paradoxo de Grossman e Stiglitz (1980), dando uma base crítica a tão defasada Instrução CVM 358/2002 que regula o insider trading no Brasil. Os resultados reforçam a importância da transparência das negociações dos insiders, para que os participantes do mercado possam fiscalizar e controlar melhor as suas operações, bem como utilizar alguma estratégia de investimento baseada nos sinais dos insiders. 

Palavras-chave – Mercado de capitais; Hipótese de mercados eficientes; Assimetria de informação.



Objective – Our main objective is to analyze the impacto f insider trading on stock investments’ decision. 

Design/methodology/approach – We used an online survey, obtaining 271 valid answers. To analyze our data, we used some parametric (t and F Anova), and non-parametric techniques (Mann-Whitney and Kruskal-Wallis). 

Findings – We find that insider tradings are relevant to investment decisions, and the timeliness also exert an influence to this kind of decision, especially abnormal trades. 

Practical implications – In practical terms, our results suggests that the Brazilian Securities and Exchange Commission (CVM) must update the Brazilian insider trading regulation to achieve the objective to protect investors. In the investors point of view, this possible update could improve investors’ ability to control insiders and follow his activities as well as to mimic his trades. 

Originality/value – The originality of our paper is an analysis of relevance, timeliness and influence of position in a firm as “determinants” of investment decisions. We use these three specific characteristics to criticize the Brazilian insider trading regulation. 

Keywords – Capital Markets; Efficient Market Hyphotesis; Information asymmetry.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O que motivou esse post foi uma matéria na Folha que mostra que algumas empresas (eles têm seus próprios objetivos, mas o que importa é o benefício que a sociedade toda terá) estão com projetos de educação financeira em comunidades carentes.

Gente, isso não pode. É pecado!! Pobres não podem ter acesso a educação financeira. Eles não podem deixar de ser pobres. Não podemos aceitar isso, caso contrário, reclamaremos de quê, se a educação financeira puder ajudar algumas pessoas a reduzir ou sair da pobreza?

Pobre não pode ser bem educado financeiramente. Como deixaram isso acontecer?!!?!??!?!? O governo precisa intervir!

P.s. (só por garantia): não estou falando sério. É uma alfinetada nos rebeldes sem causa que acham que educação financeira é só para ricos (na verdade, os ricos são os que menos precisam disso).

Para quem não lembra, no post "A greve é só pelo dinheiro" eu falei um pouco sobre essa questão dos "rebeldes sem causa" que atrapalham o desenvolvimento do Brasil e a execução de projetos desse tipo.

Nós só seremos um país desenvolvido quando formos educados (em várias vertentes). Todos sabem que (em média) os políticos não querem isso. Mas professores não quererem isso também... era uma novidade para mim, há alguns anos.

Segue o comentário de um avaliador de um projeto do qual eu faço parte, sobre educação financeira:

"Apesar de o decreto citar que a educação financeira faz parte da inclusão social, o processo para a juventude negra vulnerável à violência é muito mais complexo, pois muitas vezes tem poucos ou nenhum direito garantido Antes de assegurar educação financeira, há que se garantir direitos fundamentais mais emergenciais, para após a garantia destes, aí sim pensar em educar financeiramente"(AVALIADOR)

Essa é uma das minhas motivações para a hashtag #DisseminandoOMal no Facebook. O mal (contabilidade e finanças) precisa ser disseminado, para que possamos ser desenvolvidos um dia. Isso faz parte da educação que precisamos!

Os artigos poderão ser submetidos ao congresso até o dia 16/02/2016.

Prestem atenção a esse detalhe importante (e louvável por parte da organização do evento):

Artigos já apresentados em eventos (congressos, seminários, workshops, painéis etc.), ainda não publicados nem encaminhados a periódicos, podem ser submetidos a avaliação para apresentação nos Congressos USP. Nesse caso, é obrigatório que o texto tenha evoluído significativamente, em função de críticas e sugestões colhidas pelos autores nas apresentações precedentes. Frisa-se que artigos já apresentados nos Congressos USP não poderão ser submetidos, mesmo que já tenham sofrido alterações;

Essa vai para todos os pesquisadores em treinamento (IC, mestrandos e doutorandos), inclusive eu, ou que já são graduados (doutores e pós-doutores):

Trecho do "O último teorema de Fermat". Veja mais aqui.

SOBRE O FOCO E A VONTADE DE RESOLVER O PROBLEMA:

http://www.famousscientists.org/
Eu tirei várias ideias e tirei várias lições lendo esse livro e uma delas é sobre focar em minha pesquisa e esquecer o resto (eu já tenho feito isso um pouco, mas poderia fazer mais, deixando de postar aqui no blog kkk).

David Hilbert, por exemplo, uma vez falou sobre o porquê de nunca ter tentado resolver o problema de Fermat: antes de começar eu precisaria estudar por três anos e eu não tenho tanto tempo para gastar em um possível fracasso. Possivelmente ele estava focado em outros trabalhos. Ou não queria fazer o que muita gente já vinha tentando fazer há muitos anos.

https://en.wikipedia.org/wiki/Andrew_Wiles
A imagem que anexei no início desse post mostra alguém com uma mentalidade totalmente diferente da de Hilbert. Andrew Wiles (quem efetivamente resolveu o Teorema) deixou de lado qualquer trabalho que não estivesse diretamente relacionado com a busca da solução para o problema de Fermat: deixou de participar de eventos, continuou apenas com suas atividades obrigatórias em Princeton, trabalhou muito em casa (eu costumo fazer isso, pois além de não ter estrutura na UFPB, sempre tem alguém para conversar) etc.




O que diferenciava Hilbert de Wiles? Wiles realmente queria resolver o "Último Teorema de Fermat". Eles buscava a solução para isso desde o início de sua juventude. 

Além de foco, um bom pesquisador precisa fazer o que gosta e o que realmente quer (como em qualquer outra profissão). Não adianta querer fazer um trabalho apenas porque está na moda ou porque seus contatos trabalham com isso. Para ter sucesso em nossa pesquisa, precisamos fazer o que ninguém fez ainda, na verdade. É aí onde nos destacaremos... com foco, é claro.


DUAS QUALIDADES INCOMPATÍVEIS DO PESQUISADOR:

Complementando, em uma das passagens do livro, o autor falar que um pesquisador (na verdade um "expert problem solver", em suas palavras) deve ter duas qualidades incompatíveis: ter uma imaginação inquieta e ter uma teimosia paciente. 

Realmente é um pouco difícil ter essas duas qualidades ao mesmo tempo. Se você tem uma imaginação inquieta, você buscará analisar diversas coisas de várias formas diferentes, porém um indivíduo teimoso e paciente não será tão inquieto a esse ponto, podendo reduzir a criatividade de seu trabalho. Todavia, podemos usar alguns conceitos de pesquisa operacional (programação linear, especificamente) para tentar maximizar as duas qualidades intrinsecamente (sem fazer contas). 

Isso é semelhante à relação entre objetividade/comparabilidade/verificabilidade e relevância da informação contábil [veja mais na seção 3.3 de Paulo, Carvalho e Girão (2014)]: não dá para ter uma informação 100% relevante e 100% verificável e comparável. A informação relevante deve ser elaborada sob medida para cada usuário e muitas vezes não é "legal/burocraticamente" verificável.

CONCLUSÃO:

Então é isso. A lição de hoje é buscar ter mais foco e fazer o que gosta; além de ser inquieto, usando muito a criatividade, mas tendo um pouco de paciência (não venham reclamar da CAPES/Produtivismo... isso é matéria para outro post).

domingo, 13 de dezembro de 2015

Esse é o primeiro post de Dimas Queiroz (mais novo Doutor em Contabilidade no Brasil) sobre Contabilidade Pública. Há muito tempo venho chamando ele para complementar a equipe do Blog com posts nessa área. Agora que o doutorado acabou, ele resolveu nos ajudar a divulgar o debate sobre contabilidade e finanças (agora na área pública).

Seja bem-vindo! E aos leitores do blog, aproveitem!

Abaixo está o texto escrito por ele:

Inicialmente, gostaria de agradecer o espaço oferecido pelos membros do Contabilidade & Métodos Quantitativos para realizar uma série de postagens na área de Contabilidade Pública.


Estou começando hoje minha participação no Blog com uma série de postagens que criticam o Planejamento Público Brasileiro. O Post de hoje pega carona na polêmica mais recente e aborda a alteração da Meta Fiscal prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015.

Retirado do Canal Timbu Fun

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) estabelece, no seu artigo 4º, que “integrará o projeto de lei de diretrizes orçamentárias Anexo de Metas Fiscais, em que serão estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes”.


De forma bem simples, as metas fiscais são estabelecidas para manter o equilíbrio entre o fluxo de receitas e despesas públicas. Consistem nos resultados a serem alcançados pela administração pública visando manter a trajetória desejada de endividamento público de médio prazo. Além disso, as metas fiscais embasam a avaliação da política fiscal estabelecida pelo poder Executivo e orientam a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA).


Pois bem, recentemente o Congresso Nacional aprovou e a Presidente sancionou a Lei 13.199/2015, que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias para o ano de 2015.


Originalmente, o Art. 2º da Lei 13.080/2015 (LDO) estabeleceu o valor de R$ 66.325.000.000 como meta de superávit primário para o setor público consolidado.


Em função de diversos fatores políticos e econômicos (não é objetivo do post esclarecer tais fatores), essa meta ficou longe de ser alcançada. Então, o governo federal tinha duas opções: ou descumpria a meta fiscal estabelecida pela LDO, descumprindo também a LRF, ou alterava a meta fiscal, rebaixando-a e evitando qualquer tipo de ilegalidade. A segunda opção foi a escolhida pelo Governo. O Art. 2º da Lei 13.080/2015 passou a prever resultado primário deficitário de R$ 48.908.400.000. Essa meta ainda pode ser reduzida em caso de frustação de receita de R$ 11.050.000.000 correspondente a receita de concessões e permissões relativas aos leilões das Usinas Hidroelétricas e R$ 57.013.000.000 correspondente às famosas "pedaladas fiscais".


Situação semelhante aconteceu em 2014, quando a Lei 13.053/2014 alterou a meta fiscal prevista na LDO (Lei 12.919/2013). O superávit consolidado de R$ 167.360.000.000 previsto para 2014 pode ser reduzido até o montante das desonerações de tributos e dos gastos relativos ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ou seja, meta nenhuma.


O debate sobre a meta de superávit primário para 2016 também merece atenção. O Ministro Levy defende a meta de 0,7% do PIB e outras alas do governo defendem que a meta seja zerada, gerando mais incertezas sobre a política fiscal brasileira.


Em função dessa situação recorrente, algumas perguntas devem ser levantadas: qual é a utilidade do planejamento público e, mais especificamente, das metas fiscais? Como avaliar a política fiscal do governo?


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Recentemente postei aqui no blog sobre um Professor que aplica uma metodologia que permite aos alunos se ajudarem a aprender Cálculo. Resolvi entrar em contato com ele para parabenizá-lo. 

Ele me respondeu e me recomendou alguns links para saber mais sobre o método. Meu papel é, como eu sempre digo, #DisseminarOMal (o mal é, na verdade, uma coisa boa, para quem não me acompanha no Facebook).

a) Vídeo de 3 minutos explicando o método: https://youtu.be/s0g1AgGFP5kb) Talk no TEDx: https://youtu.be/gay6TYwVwf4c) Reportagem na Record: https://youtu.be/zQsaUjWw330d) Reportagem na UnBTV: https://youtu.be/7cfNcn-zge0e) Vídeos com detalhes técnicos para professores: https://youtu.be/QLJtwsX8NqUf) Matéria de jornal: http://unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=9732g) Artigo científico:
http://gestaoesaude.bce.unb.br/index.php/gestaoesaude/article/view/1390/0

Eu sempre me interessei (um pouco) por matemática. Apesar de não ser especialista nisso, gosto de estudar algumas coisas e ler sobre história (que é uma coisa que eu também me interesso) da matemática.

Recentemente, em um voo de volta para João Pessoa, resolvi voltar a ler o "Fermat's Enigma: The Epic Quest to Solve the World's Greatest Mathematical Problem" (traduzido no Brasil como "O Último Teorema de Fermat") e algumas passagens me chamaram muito a atenção, principalmente pela parte que eu pude relacionar com nossos problemas em contabilidade e na pesquisa em contabilidade e finanças (especificamente).



Na passagem abaixo (do livro) o autor fala da importância das "pontes matemáticas", pois elas fazem com que os matemáticos que vivem em diversas ilhas possam se relacionar: o matemático da ilha da geometria pode conversar com o matemático que vive na ilha da probabilidade.


O mesmo serve para a contabilidade. Quem trabalha com contabilidade societária tem que ter uma boa relação com quem trabalha com contabilidade de custos, de modo que possam fornecer a melhor informação para o tomador de decisão. Ou o cara que pesquisa em contabilidade gerencial precisa ter uma boa relação com o pessoal de tributos e contabilidade financeira.

Sobre isso, conversei com dois colegas (um de gerencial e outro de tributos) e a partir da conversa com eles tive uma ideia de pesquisa (que utilizará um experimento e uma modelagem analítica) para testar algo que só com o conhecimento da minha área eu não poderia testar. 

VALE À PENA CONSTRUIR PONTES, NÃO VALE A PENA TENTAR DESTRUÍ-LAS:

O "Último Teorema de Fermat" precisou do trabalho conjunto dos moradores das diversas ilhas para ser resolvido (e isso levou séculos). Quem sabe com o trabalho conjunto das nossas várias ilhas do mar dos negócios não conseguiremos resolver alguns dos nossos maiores problemas não resolvidos? Quem sabe até aumentando a conversa com as ilhas de outros mares e oceanos!

Para finalizar, nunca digam que alguém é "muito de Finanças". Um dos piores sentimentos que eu costumo ter é quando alguém diz "Felipe é muito de Finanças", como se fossem coisas diferentes (talvez porque eu faça pesquisa empírica em contabilidade financeira e dê aula de finanças corporativas). Principalmente quando é um Professor/Pesquisador.

Finanças é um conceito muito amplo (um mar dos negócios, talvez até um oceano) que envolve diversas ilhas: contabilidade, marketing, economia em geral, direito, psicologia, física, geografia, história, matemática, estatística etc.

Assim: não busquemos destruir pontes, busquemos contruí-las!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Hoje de manhã o Professor Bruno Frascarolli (do Departamento de Economia da UFPB) me marcou em um post sobre um Professor de Cálculo 1 que conseguiu reduzir drasticamente o número de reprovações em sua disciplina. A primeira coisa que meu veio à mente foi uma frase de um professor "Quant" sobre uma disciplina "difícil":

Essa disciplina é muito difícil. Nenhum aluno deveria ser aprovado por média. Muitos devem ser reprovados.

Nós não precisamos de professores assim. O que nós precisamos é de Professores que tenham orgulho de dizer que conseguiram fazer com que alunos aprendessem o conteúdo de uma disciplina que é historicamente problemática.

OS ALUNOS DEVEM SER TAMBÉM ATORES (TALVEZ PRINCIPAIS) DA NOVELA DA SALA DE AULA:

Ideias com a do Professor Ricardo Fragelli são muito boas e devem ser disseminadas nas Faculdades. Eu uso muito coisas desse tipo e meu objetivo é a cada semestre ser menos "ator principal" nas minhas disciplinas. Além disso, meus alunos sabem o quanto odeio provas e o quanto valorizo a colaboração e discussão de ideias entre eles. Provas são muito "cavernosas", em minha opinião.

O que mais me chamou a atenção foi o método dos 300 usado por ele. O sistema parece com o "pair and share" que eu conheci recentemente e que pretendo usar no próximo semestre. Quem sabe não uso o método dos 300 também? Já faço meus alunos irem ao quadro com muita frequência, então precisaria apenas expandi-lo.


INCENTIVOS INDIVIDUAIS E EM GRUPO:

Ainda sobre os incentivos dados no método dos 300, eu acho que é muito válido (nas empresas é preciso dar incentivos, por que não nas Faculdades?) e eu realmente gosto de dar incentivos desse tipo aos meus alunos. Esse semestre, por exemplo, meus alunos ficaram nas primeiras colocações de um jogo da CVM, então dei média 10 ao que ficou em primeiro lugar (desde que a média dele, fazendo todas as atividades da disciplina não fosse menor do que 7).

Outra vez um aluno ficou bem colocado no simulador da bolsa (FolhaInvest), também recebeu um prêmio. Uma outra aluna foi semifinalista do Desafio Universitário Empreendedor, ganhou um prêmio também.

Outro incentivo que eu gosto de dar aos alunos é o Prêmio de Melhor Aluno em Finanças Aplicadas I (2012.2, 2013.2 e 2014.2). O dele tem um nome mais divertido: Prêmio O Rei da Derivada (ou a Rainha). 

Por que não institucionalizamos isso aqui na UFPB? Por que não criarmos um prêmio para os melhores alunos do semestre? Uma vez eu propus um prêmio de melhores monografias... foi a maior polêmica... vai saber... A vida é guiada por incentivos (monetários ou não).

Obrigado por se preocupar em ser um bom Professor, Ricardo, e parabéns pela iniciativa e pelo orgulho de dizer que seus alunos foram aprovados, não que foram reprovados!! É disso que nós precisamos. Você me deu várias ideias e um incentivo adicional.

Mais um artigo retratado por ter produzido resultados que não podem ser suportados pela análise de resultado. A implicação disso é que toda a produção científica do autor "deverá ser considerada como suspeita" a partir de agora.

O relatório final da análise de má conduta poderá ser acessado clicando aqui.

Já postamos aqui no blog algo sobre isso: Retratação de artigos no Journal of Accounting Research

Ler em inglês é muito importante para quem estuda/trabalha na área de contabilidade e finanças pois os principais materiais de estudo do mundo estão publicados em inglês (língua universal, assim como a contabilidade é a linguagem dos negócios) e porque usamos as IFRSs que primeiramente são publicadas em inglês, para então serem traduzidas para o português. Além disso, muito material importante das IFRSs nunca é traduzido.

Recentemente tive uma experiência com alguns alunos que conversaram comigo sobre a tradução de textos técnicos. Resolvi anotar alguns e apresentar aqui, para que outras pessoas não errem mais, uma vez que esses termos são muito comuns:

  1. Interest não é "interesse", são os famosos juros.
  2. Long term não é "longa caminhada", apesar de ser parecido: longo prazo.
  3. Credit Suisse não é crédito suíço, apesar de você poder obter crédito de um banco suíço.
  4. Board pode ser um quadro, daqueles que usamos para dar aula, porém dependendo do contexto pode ser o Conselho de Administração ou algo do tipo.
  5. Assets são os ativos da empresa, assim como liabilities são os passivos. Isso é algo que todo contador tem que saber!

Recomendo que usem o WordReference (mais geral) e Investopedia (específico para a área de negócios). Eles me ajudam muito sempre que tenho alguma dúvida.

No post sobre as dicas para monografias eu falei sobre a importância da leitura em inglês e dei algumas dicas de dicionários. Foi a dica de número 9:

9. Aprenda a ler em inglês. Ler em inglês é importante porque as principais revistas do mundo publicam artigos apenas em inglês, consequentemente, os melhores artigos estão publicados em inglês (uma língua universal e fácil de se aprender a ler). Principalmente aqueles que querem fazer mestrado, leiam esse post com algumas dicas que eu segui quando estava me preparando para entrar no mestrado. Veja mais sobre isso nesses posts: "prática do inglês contábil na graduação", "dicionário de contabilidade inglês-português" e "dicas para escrever em inglês".

Bons estudos!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A Abacus é uma das revistas que eu mais gosto, em Contabilidade. Recentemente, nas recordações do Facebook, eu relembrei uma edição especial dela sobre o CAPM. Dessa vez, em sua edição comemorativa, eles trouxeram vários dos principais pesquisadores de nossa área com vários artigos que nos fazem pensar um pouco mais sobre o que fizemos, estamos fazendo e o que precisamos fazer.

Abaixo o sumário da edição especial:


  1. Accounting Research: Past, Present, and Future (pages 511–524)
    Thomas R. Dyckman and Stephen A. Zeff
    Article first published online: 24 NOV 2015 | DOI: 10.1111/abac.12058
  2. Accounting Research and Common Sense (pages 525–535)
    James A. Ohlson
    Article first published online: 23 NOV 2015 | DOI: 10.1111/abac.12059
  3. Risk in Accounting (pages 536–548)
    Shyam Sunder
    Article first published online: 24 NOV 2015 | DOI: 10.1111/abac.12060
  4. Accounting Research: Where Now? (pages 572–586)
    Stewart Jones and Murray Wells
    Article first published online: 27 NOV 2015 | DOI: 10.1111/abac.12062