outubro 2017 - Blog ContabilidadeMQ

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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

No vídeo de hoje, Glauco Pordeus nos mostra como estimar a probabidade de negociação com informações privadas (probability of informed trading - PIN) usando o R.

Algumas semanas atrás nós apresentamos aqui no blog uma aplicação prática do uso da PIN, questionando se haviam evidências de negociações anormais com as ações da JBS próximo da data do vazamento da delação. Quem não leu, recomendo que leia clicando aqui, antes de assistir ao vídeo. Após aquele post, nós fizemos um teste adicional, para confirmar a nossa hipótese.

Vamos ao vídeo! O script está no final do post.




Para saber como coletar os dados, assista ao seguinte vídeo sobre a coleta clicando aqui.

SCRIPT USADO NO VÍDEO:

####### INTRODUÇÃO ####

    # Date: 2017-08-21
    # Author: Duygu Celik and Murat Tinic
    # Maintainer: Murat Tinic <tinic@bilkent.edu.tr>

# Market microstructure theory Livro por Maureen O'Hara 1995

# Estimates the probability of informed trading (PIN) initially introduced by Easley et. al. (1996)
# Contribution of the package is that it uses likelihood factorizations of Easley et. al. (2010) and Lin and Ke (2011)
# Moreover, the package uses different estimation algorithms. 
# Specifically, the grid-search algorithm proposed by Yan and Zhang (2012)
# hierarchical agglomerative clustering approach proposed by Gan et. al. (2015)
# and later extended by Ersan and Alici (2016)

# APLICAÇÕES NACIONAIS

# MARTINS, O. S.; PAULO, E. ; ALBUQUERQUE, P. H. M.
# 2013 Negociação com informação privilegiada e retorno das ações na BM&FBOVESPA
      # http://rae.fgv.br/rae/vol53-num4-2013/negociacao-com-informacao-privilegiada-retorno-acoes-na-bmfbovespa

# GIRÃO, L. F. A. P.; MARTINS, Orleans S. ; PAULO, EDILSON
# 2014 Avaliação de empresas e probabilidade de negociação com informação privilegiada no mercado de capitais.
      # http://www.scielo.br/pdf/rausp/v49n3/a03v49n3.pdf
# 2016 Preço da Ação, Disclosure e Assimetria de Informação: o Caso OGX
      # http://proxy.furb.br/ojs/index.php/universocontabil/article/download/4832/pdf_1 

# DISSERTAÇÃO LEONARDO MELO BOSQUE
# 2016 Estimação da probabilidade de negociação privilegiada por meio de inferência bayesiana.
      # http://repositorio.unb.br/handle/10482/23138




####### COLETA DE DADOS #######
library(GetHFData)
library(plyr)
library(InfoTrad)

#### COLETA DOS DADOS

getwd ()
setwd ("c:/Users/glauc/Desktop")

first.time <- '09:00:00'
last.time <- '18:00:00'
type.output <- 'agg'
agg.diff <- '1 hour'
type.market <- 'equity'
first.date <- '2017-07-20'
last.date <- '2017-10-20'

base1 <- ghfd_get_HF_data( type.market = type.market, first.date = first.date, 
                           last.date = last.date, first.time = first.time, 
                           last.time = last.time, type.output = type.output, 
                           agg.diff = agg.diff)

#### TRATAMENTO DOS DADOS

filter1 <- data.frame(base1[,1],base1[,2],base1[,5],base1[,9],base1[,10],base1[,11],base1[,12])
names(filter1) <- c('ticker','date','price','quant','volfinc','buy','sell')

ticker1 <- subset(filter1, ticker=='JBSS3')
ticker1.1 <- ddply(ticker1,.(date),summarize,buy=sum(buy),sell=sum(sell))
ticker1.2 <- data.frame(ticker1.1[,2],ticker1.1[,3])
names(ticker1.2) <- c('buy','sell')

ticker2 <- subset(filter1, ticker=='PETR4')
ticker2.1 <- ddply(ticker2,.(date),summarize,buy=sum(buy),sell=sum(sell))
ticker2.2 <- data.frame(ticker2.1[,2],ticker2.1[,3])
names(ticker2.2) <- c('buy','sell')

####### EXECUÇÃO DOS MODELOS ####

# par0 = (alpha, delta, mu, epsilon_b, epsilon_s)
par0 = c(0.5,0.5,0,mean(ticker1.2[,1]),mean(ticker1.2[,2]))

LK_out = LK(ticker1.2)
model = optim(par0, LK_out, gr = NULL, method = c("Nelder-Mead"), hessian = FALSE)
alpha1 <- model$par[1] # Estimate for alpha
delta1 <- model$par[2] # Estimate for delta
mu1 <- model$par[3] # Estimate for mu
eb1 <- model$par[4] # Estimate for eb
es1 <- model$par[5] # Estimate for es
pin1 <- (model$par[1]*model$par[3])/((model$par[1]*model$par[3])+model$par[4]+model$par[5])


# Gan et. al. (2015)
result1 = GAN(ticker1.2)
print(result1)
pin1 <- result1$PIN
alpha1 <- result1$alpha
delta1 <- result1$delta
mu1 <- result1$mu
eb1 <- result1$epsilon_b
es1 <- result1$epsilon_s

result2 = GAN(ticker2.2)
print(result2)
pin2 <- result2$PIN
alpha2 <- result2$alpha
delta2 <- result2$delta
mu2 <- result2$mu
eb2 <- result2$epsilon_b
es2 <- result2$epsilon_s


resumo = matrix(nrow = 2, ncol = 6)
resumo[1,1] = pin1
resumo[1,2] = alpha1
resumo[1,3] = delta1
resumo[1,4] = mu1
resumo[1,5] = eb1
resumo[1,6] = es1
resumo[2,1] = pin2
resumo[2,2] = alpha2
resumo[2,3] = delta2
resumo[2,4] = mu2
resumo[2,5] = eb2
resumo[2,6] = es2
resumo <- data.frame(resumo)
colnames (resumo) = c("PIN", "Alpha", "Delta","Mu", "Eb", "Es")
rownames(resumo) = c("JBSS3","PETR4")
resumo

setwd ("c:/Users/glauc/Desktop")
write.table(resumo, file = "test.txt", sep = ";" )


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

No vídeo dessa semana, a monitora Michelly Vieira trata de alguns detalhes sobre o uso da perpetuidade em valuation: o valor terminal.

Confiram abaixo e aproveitem e se inscrevam no nosso canal:


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Na última quarta-feira um dos meus orientandos de PIBIC resolveu virar blogueiro e publicar uma análise sua comparando o uso de bicicleta ou ônibus para deslocamento em João Pessoa, com base em sua experiência pessoal.
Programei o post para hoje por causa das postagens do caso da JBS que fiz nas últimas semanas, mas aí está:

Post escrito por Glauco Graco Nóbrega Pordeus.

Inspirado pelo nobre Felipe Pontes, e sua astúcia em partilhar o que pensa e estuda, me veio a vontade de fazer uma aplicação simples de uma avaliação de investimento em mobilidade urbana. Tomei como exemplo a troca de veículo urbano de ônibus para uma bicicleta.

Esta simulação foi desenvolvida pensando em dois tipos de indivíduos, um trabalhador com salário mínimo (R$ 979,00 em 2018) e sem meia passagem, e um estudante bolsista (R$ 400,00) com meia passagem.

O experimento foi feito de acordo com as seguintes premissas: 

1) A passagem de ônibus é R$ 3,20, e ambos os tipos de indivíduos pegam dois ônibus ao dia;
2) Tanto a renda quanto o preço do transporte público não irão inflacionar;
3) A redução de custo provido pela mudança de transporte será destinada para uma aplicação no Tesouro IPCA + 2024 (4,54% a.a. / 0,37% a.m.), sendo resgatado apenas no seu vencimento;
4) O novo meio de mobilidade será usado por quatro anos, após este período os aportes no Tesouro serão paralisados;
5) Foi considerado um investimento inicial de R$ 400,00 com a compra de uma bicicleta básica e adotou um custo com manutenção de R$ 100,00 ao ano. Assim o capital total investido ao longo dos quatro anos será de R$ 800,00; e
6) Foi considerado o mês como tendo 20 dias úteis, para o critério da passagem.

Após quatro anos, a renda acumulada por meio da destinação dos gastos com ônibus para o Tesouro IPCA + 2024 foi bastante significativa. 

A tabela abaixo demonstra quanto o ciclista obterá de resultado:
Indicadores de retorno
Estudante
Trabalhador
Total acumulado
R$ 2.933,77
R$ 6.781,53
Renda extra anual
R$ 733,44
R$ 1.695,38
Retorno sobre investimento
266,7%
747,7%
Ganho efetivo de renda anual
15,28%
13,32%
Horas ganhas
158,91
304,79
Dias ganhos
6,62
12,70

Os resultados mostraram que, ao optar pela bicicleta como meio de transporte, o estudante é capaz de obter um ganho de capital de R$ 2.933,77, já o individuo que não é beneficiado pela meia passagem tem um ganho de R$ 6.781,53 no resgate do título, o que demonstra o quanto a economia diária é relevante na perspectiva de longo prazo.

Partindo do montante acumulado, obtivemos retorno sobre o capital investido – ROIC (R$ 800,00) de 266,7% (R$ 733,44 por ano) para estudantes e de 747,7% (R$ 1.695,38 por ano) para indivíduos que não se encaixam na política de meia entrada. 

Porém, mesmo que o ROIC do trabalhador tenha sido 2,8x maior que o do estudante, isto não se reflete no ganho efetivo de renda, assumindo que o bolsista recebe 12x a.a. e o trabalhador 13x a.a., a renda extra efetiva, obtida por meio da razão entre a renda extra anual e a renda anual dos indivíduos, o trabalhador tem um ganho efetivo de renda aproximadamente 2% inferior ao estudante, pelo fato da renda mensal do trabalhador ser superior em relação a renda do estudante, quando levamos em conta o custo de transporte.

Por fim, o ponto mais interessante deste estudo: o ganho de horas por ter utilizado a bicicleta como meio de transporte. Este ganho de horas parte do pressuposto de que tempo é dinheiro, ou seja, o tempo que você trabalha em relação ao quanto você ganha. 

Por meio do ganho efetivo de capital, foram obtidas as horas (e dias) ganhas, levando em conta que o bolsista trabalha 1.040 horas ao ano e o assalariado 2.288, aplicando as devidas proporções de ganhos efetivos, chegou ao resultado de que: trocar o meio de transporte urbano pode proporcionar ao bolsista e ao trabalhador, 6,62 e 12,7 dias de renda extra, respectivamente.

Ademais, neste breve estudo não foi levado em conta os riscos (roubo, e acidentes) inerente ao uso da bicicleta como meio de transporte urbano, assim como também não foi quantificado o ganho de saúde advindos desta prática, nem mesmo a redução de emissão de poluentes no planeta. Portanto, se limitou apenas aos benefícios financeiros.

Por fim, pode-se afirmar que, efetivamente, a mudança de meio de transporte, de ônibus para a bicicleta, pode ser uma boa escolha para quem deseja ganhar (ou deixar de perder) uma "renda" extra no fim do mês, e o mais importante, tempo livre no futuro. 

Além disso, este estudo foi abordado do ponto de vista de ganho, da ótica de quem opta pelo transporte público convencional, pode-se dizer que quem paga passagem inteira te um gasto de R$ 6.781,53 ao longo de 4 anos, o que acarreta em perda de 12,70 dias por ano o mesmo que redução de 13,32% de sua renda anual.



“Quando você deixa de ganhar, na verdade você perde” 
(Autor desconhecido)


Comentários de Felipe:

Deve-se levar em conta também a distância para o local onde você está indo. Se você morar muito longe da Faculdade ou trabalho, poderá gastar muito tempo e energia pedalando. O gasto de energia, por outro lado, pode ser bom. Assim você faz o seu exercício, para se manter em forma, a caminho do destino.

Outros casos específicos, como dias de chuva devem ser levados em consideração também.

Eu passei a maior parte do meu ensino médio e Faculdade indo de bicicleta e não me arrependo nada: não gastava passagem, não ficava esperando no ponto do ônibus (perdendo tempo e correndo o risco de ser assaltado) e coisas desse tipo.

Vale à pena pensar nos benefícios!

terça-feira, 24 de outubro de 2017

O Professor Sanvincente disponibilizou uma base de dados do prêmio pelo risco de mercado implícito para o Brasil.

A metodologia poderá ser acessada clicando aqui e o arquivo Excel poderá ser acessado clicando aqui.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017


Este é, muito provavelmente, o livro mais indicado por investidores fundamentalistas e value investors para quem quer começar a investir.

Sem muito a falar de introdução, vamos lá!




QUEM SÃO OS AUTORES

Benjamin Graham: é um dos pais do value investing e da análise fundamentalista. Foi Professor e mentor de Warren Buffett, além de ser também autor de "Security Analysis" e "A interpretação das demonstrações financeiras"(que eu já postei uma review aqui no blog) (veja mais sobre ele aqui). 

Porém, na edição revisada, nós temos dois outros "coautores":

Jason Zweig: é escritor. Foi editor da Forbes e escreve sobre investimentos desde 1987 (veja mais sobre ele aqui).

Warren Buffett: para saber quem é O Cara, veja a review que eu fiz sobre o último documentário sobre a vida dele, clicando aqui.





UMA VISÃO GERAL

Este é um livro realmente antigo (primeira edição foi publicada em 1949). E livros antigos sobre fórmulas de investimentos geralmente caem no esquecimento... exceto quando são clássicos  que não vendem fórmulas e esse é um verdadeiro clássico que não vende fórmulas mágicas.

Uma das coisas que talvez não faça o livro cair no esquecimento é o fato de Warren Buffett, talvez o mais bem sucedido investidor de todos os tempos, ser um grande divulgador de Benjamin Graham e ainda estar vivo, além do fato de o livro ter ganhado uma versão revisada em 2006, após a morte de Graham.

Nesta versão revisada, para cada um dos 20 capítulos, há um capítulo adicional, escrito por Zweig, atualizando as informações e tentando explicar em termos de "hoje" o que Graham queria dizer. Além dos capítulos adicionais, há também um apêndice que trata de 7 itens, escrito por Buffett.

Para ser sincero, o livro é bem cansativo de se ler. São quase 600 páginas de puro value investing!

Esse não é um livro para se ter em cabeceira. Pelo menos não na primeira leitura. Esse é um livro para se ter na sua mesa, com um caderno ou notebook para ESTUDAR e fazer anotações enquanto lê. Após a primeira leitura você pode deixá-lo ao lado da cama, mas nunca na primeira leitura. Estude-o!

Este livro, junto com o Security Analysis, traz os fundamentos básicos de um value investor, sintetizados por Buffett, na introdução do livro (p.xiii):
  • uma ação não é só um ticker, é uma propriedade em um negócio real, cujo valor subjacente não depende do seu preço;
  • o mercado é um pêndulo que fica balançando eternamente entre o otimismo insustentável e pessimismo injustificado. O investidor inteligente é um realista que compra do pessimista e vende para o otimista;
  • o valor futuro de qualquer investimento é uma função do seu preço presente. Quanto maior o preço que você pagar, menor será o retorno que você terá;
  • não importa quão cuidadoso você é, o único risco que ninguém consegue eliminar é o risco de estar errado - mesmo considerando a margem de segurança; e
  • o segredo para o seu sucesso financeiro está dentro de você - como você pensa criticamente sobre as coisas e como se comporta com relação aos seus investimentos.

Os primeiros capítulos do livro são bem chatinhos de se ler, mas para quem está iniciando a vida de investidor, é preciso lê-los. 

No capítulo 4, que é quando o livro começa a ficar menos chato, ele fala do investidor defensivo. Neste capítulo ele fala de uma coisa que me fez lembrar recentemente o porquê de todos nós, mesmo os mais agressivos, deverem ter dinheiro aplicado em renda (ou perda, como diz Luiz Barsi) fixa.

É para a hora do jacaré fechar a boca e comer os peixinhos que estão com medo! Não lembro de quem é essa frase, mas é nos momentos de crise que o dinheiro troca de mão e é preciso termos essa reserva de liquidez imediata para fazer isso ser favorável para o nosso lado.

O jacaré estava com a boca aberta na bolsa brasileira, quando a delação da JBS fez ele fechar a boca. Foi a hora de todos os investidores inteligentes entrarem comprando na bolsa. No primeiro parágrafo (p.179) do capítulo de comentários sobre o capítulo 7, Zweig volta a falar sobre isso.

Vamos então aos trechos em destaque, que ficaram bem longos.






TRECHOS DE DESTAQUE

Eu demorei mais do que devia para fazer essa review porque o livro é muito grande e denso. Foi difícil de escrever esse post e selecionar o que deveria estar aqui. Eu costumo fazer essas reviews para me guiarem no futuro, como se fosse um resumo do livro para mim. Esse resumo foi o mais difícil, de longe.

Logo no início do capítulo 1, Graham diferencia investimento de especulação (p.18): "uma operação de investimento é aquela em que mediante uma análise completa promete a segurança do principal e um retorno adequado. As operações que não tiverem esses pré-requisitos são especulativas."

Porém existe o lado bom da especulação. Para o mercado existir, a especulação precisa existir. Um investidor inteligente (no conceito de Graham) dificilmente colocaria dinheiro em uma start-up que trabalha com uma tecnologia recente que ninguém conhece. Se todos os investidores fossem inteligentes e não existissem especuladores para assumir o risco, nós ficaríamos estagnados e parados no tempo.

Na página 21 ele cita ainda que a especulação é muito divertida. E é!

Eu já fui um especulador (na verdade, ainda sou um pouco - todos nós somos um pouco). A recomendação é que se você quer se divertir, que coloque a menor quantidade de dinheiro possível. Eu deveria ter colocado R$ 100,00 em Bitcoins, em 2013, por exemplo...

Sobre o investidor defensivo e a seleção de ações, Graham sugere o seguinte:
  1. Diversificação adequada, mas não excessiva;
  2. As empresas devem ser grandes, prominentes e ter uma estrutura de capital conservadora; 
  3. Ter um longo histórico de pagamento de dividendos (pelo menos 10 anos) - isso aqui no Brasil é muito conservador!; e
  4. Preço sobre lucro (PE ratio) de no máximo 25.
No comentário do capítulo 6, sobre o que o investidor agressivo não deve fazer, Zweig dá o exemplo de um bond da WorldCom e fala (p.146): "comprar um bond só por causa da sua rentabilidade é como casar só por causa do sexo". Chega uma hora que você vê que não tem nada além daquilo, então "casais e bondholders acabam com seus corações partidos". Não é porque um título paga muito que você tem que comprá-lo. Eu, por exemplo, nunca investi, nem penso em investir em debêntures. Acho muito arriscado. Prefiro ações diretamente.

Sobre daytrade, ainda nos comentários do capítulo 6: essa é "uma das melhores armas já inventadas para cometer suicídio financeiro. Alguns dos seus trades podem gerar dinheiro, mas boa parte deles vai te fazer perder, porém a sua corretora sempre ganhará." 

Na página 149 ele apresenta dados de uma pesquisa que evidenciou que quando considerados os custos de transação, daytrade não vale nada a pena.

Na página 151, figura 6-1, há um gráfico que compara os retornos antes e após os custos de transação dos investidores pacientes e dos hiperativos (são vários níveis de paciência até a hiperatividade). Imaginam quem ganha?

No capítulo 8 Graham trata do investidor e das flutuações do mercado. Quando comecei a ler o capítulo eu fiz a seguinte anotação: esse tem potencial para ser o melhor capítulo do livro! E realmente este é um dos melhores.

A ideia geral do capítulo 8 é que os investidores devem saber que os preços (e o valor também!) dos seus ativos flutuarão ao longo do tempo. Mais importante do que saber que as flutuações ocorrerão, o investidor de verdade deverá estar preparado para isso.

Sobre isso, na página 189, Graham diz:
(...) O investidor inteligente deve estar interessado nas possibilidades de lucrar a partir dos movimentos pendulares do mercado. (...).

Quase todos os blogs e livros de finanças pessoais que falam sobre investimentos em ações nos dizem que devemos "comprar na baixa e vender na alta". Porém o que seria isso?

Na página 193 nós temos algumas indicações de como encontrar um bull market (mercado comprador/altista) que pode reverter, gerando a possibilidade de aproveitar o movimento para realizar lucro e voltar a comprar depois:

Praticamente todos os bull markets possuem algumas características em comum, como (1) nível de preços altos, historicamente, (2) alto índice preço/lucro, (3) baixos dividend yields, quando comparados com os bond yields, (4) muita especulação e (5) muitas ofertas de ações de baixa qualidade.

No Brasil, nos últimos anos, têm surgido muitas casas de análises (financial researchers), sendo que algumas são muito boas (a exemplo de Eleven Financial e Suno Research) e outras não tão boas assim... 

Para os usuários desse tipo de serviço (considerando que a grande maioria dos investidores são amadores), o capítulo 9 é muito indicado, pois trata do investidor e os seus conselheiros/assessores, abrindo a mente dos investidores para o fato de que a decisão deverá ser sempre deles (p.261):
O investidor inteligente não fará suas compras e vendas apenas com base nas recomendações recebidas de algum serviço financeiro. (...) o papel do serviço financeiro será útil no fornecimento de informações e de sugestões.
Quando eu li o livro pela primeira vez, eu ainda não conhecia os financial researchers que eu conheço hoje que são muito bons. Nessa passagem da página 265 eu até anotei que "tenho muita dificuldade de encontrar analistas assim aqui no Brasil".

Veja o que ele diz, principalmente quanto a alguns analistas menos independentes:
(...) Uma vez que o analista se convence de que ele está lidando com uma pessoa que é orientada por valor, no lugar de uma pessoa orientada por cotações, existe uma excelente chance de que suas recomendações se provarão como de real benefício para o investidor.
Os comentários feitos Zweig no capítulo 10 são, talvez, os melhores que ele fez. Pelo menos pensando em Brasil, com a nossa atual situação do advento e popularização das financial researchs e assessores e planejadores financeiros.

Na página 274 ele traz diversas dicas para que o investidor possa checar a "qualidade" do seu assessor: confie, depois verifique

Por exemplo, ele recomenda verificar a especialidade do assessor (operador de bolsa? Planejador financeiro? Contador?). Após isso, as recomendações seguintes são: (1) pesquisar sobre o assessor e a sua empresa no Google e, no caso brasileiro, (2) verificar se o indivíduo tem a certificação necessário para o trabalho (por exemplo, os analistas devem ter o registro CNPI da APIMEC - aqui você verifica todos os analistas credenciados).

O quadro da página 275 deve ser lido por todo mundo que assina algum serviço de consultoria financeira. Sério!!



Aqui estão alguns exemplos de palavras que devem chamar a atenção dos investidores: "a oportunidade da sua vida", "garantido", "você precisa ser rápido", "você se arrependerá se não entrar...", "exclusivo" (essa aqui era muito usada por Bernie Madoff - no final do post tem um link para a review que eu fiz do filme sobre ele), "confie em mim", "retornos mensais", "ninguém mais sabe como fazer isso" etc.

Isso lembra alguma coisa - empresas?!?!

Da página 276 a 277, Zweig traz algumas perguntas que você deve fazer ao seu possível assessor ou analista.

Destacarei apenas o segundo grupo delas (são 12):
Qual é a sua filosofia de investimento? Você usa ações ou fundos? Você usa análise técnica? Você usa market timing? (Um "sim" para qualquer uma das últimas duas questões é um sinal negativo para você).
Nada contra análise técnica, mas os analistas técnicos e market timers não estão dentro do escopo do livro "O investidor inteligente" de Benjamin Graham. Conheço pessoas boas que usam esse tipo de estratégia, mas eu, assim como Graham e Buffett, não uso. Se você também não tem esse perfil, deve procurar por assessores e analistas fundamentalistas.

Leiam atentamente também as páginas 276 e 277. Isso é muito sério!

O capítulo 11 é muito importante para os investidores leigos (foi esse termo que Graham usou).

Ele trata de análise de bonds e ações, porém em termos gerais. Para os investidores menos leigos, talvez os comentários do capítulo sejam mais interessantes do que o capítulo em si.

Zweig inicia os comentários sobre o capítulo 11 relembrando os 5 pontos que Graham diz serem decisivos quando da escolha da ação na qual investir (p.302):
  • Informações de longo prazo sobre a empresa
  • A qualidade da gestão
  • A solidez financeira e a estrutura de capital
  • Histórico de dividendos
  • Seu payout atual
Zweig fala generosamente sobre cada um dos pontos acima, da página 302 à 309, "sob a luz do mercado atual". Recomendo que leiam com bastante atenção.

Na página 310 temos dois conselhos importantes (e segue o restante do capítulo tratando disso na ALCOA):
(...) o primeiro é: não tome o lucro de apenas um ano como sendo tão sério. O segundo: se você realmente presta atenção aos resultados de curto prazo, procure por armadilhas nos números por ação. Se a nossa primeira advertência for seguida, a segunda será desnecessária. 

Sobre o capítulo 13 não há muito o que comentar de forma específica, pois ele é bem curto e foca na aplicação prática da ideia do livro, comparando 4 empresas.

Há também uma ênfase quanto a revisão de 6 conceitos importantes, quais sejam (p. 333 e 334):
  1. Lucratividade;
  2. Estabilidade;
  3. Crescimento;
  4. Situação financeira;
  5. Dividendos; e
  6. Histórico das cotações da ação.



O capítulo 14 descreve alguns critérios que devem ser usados pelo "defensive investor", ao selecionar as suas ações.

A lista com os critérios poderá ser lida nas páginas 348 e 349.

Enfatizo que esses critérios são para investidores bem conservadores e os números citados são discricionários e de muitas décadas atrás (o livro é de 1973), então cuidado ao replicar.

Para cada um dos critérios ele cita um bright-line que eu não trago aqui, mas vocês podem encontrar no livro:
  1. Tamanho da empresa (ele exclui empresas pequenas, mas reconhece que podem existir boas oportunidades nelas);
  2. Condição financeira suficientemente forte;
  3. Estabilidade dos lucros;
  4. Histórico de pagamento de dividendos (aqui no Brasil eu chutaria que praticamente nenhuma empresa passaria nesse filtro, porque ele sugere 20 anos de pagamentos de dividendos);
  5. Crescimento dos lucros;
  6. Múltiplo P/L (ou PE em inglês) moderado;
  7. O mesmo para o múltiplo Preço sobre Ativo.
Após o capítulo 14 há, como em todo o livro, o capítulo de comentários é de leitura extremamente obrigatória para qualquer value investor, pois há, nos comentários, uma atualização dos critérios inicialmente propostos do Graham. As atualizações vão da página 369 a 374.

O capítulo 15 se encarrega de trazer um pouco mais de agressividade ao processo de seleção de ações, para investidores mais agressivos ("enterprise investor"): os critérios são os mesmos, basicamente, mas com alguma suavização dos bright-lines (p. 385 e 386).

O capítulo 16 eu nem considerei para escrever algo aqui. Não vi nada de muito importante para comentar. Os capítulos 17 e 18, assim como os seus comentários, eu também não escreverei nada, mas recomendo muito a sua leitura atenta, pois são outros dois capítulos de aplicações práticas e os capítulos de comentários deles trazem exemplos de aplicações bem atuais.

Agora finalmente chegamos ao último capítulo do livro que trata de uma das coisas mais importantes da metodologia de Benjamin Graham: o conceito de margem de segurança!

Mesmo que você seja um pouco otimista demais com a sua avaliação da empresa, a aplicação da margem de segurança te permite reduzir um pouco desse efeito. É basicamente sobre isso que o capítulo trata.

No final do capítulo 20, Graham traz 4 princípios de negócios (p. 523 e 524) que nós devemos seguir nos nossos investimentos no mercado de capitais, para fechar seu livro com chave de ouro:

  1. Conheça o seu negócio - saiba o que está fazendo;
  2. Não deixe outra pessoa gerenciar o seu negócio, a menos que (a) você consiga supervisionar sua performance e (b) você tenha fortes razões para confiar na pessoa; 
  3. Nunca entre num negócio sem ter feito cálculos confiáveis de que esse negócio poderá de te gerar um lucro razoável; e
  4. Tenha coragem baseado em seu conhecimento e experiência. Se você concluiu algo baseado em fatos e se você acha que seu julgamento faz sentido, faça isso - mesmo que outras pessoas possam discordar.
Sobre o 4º princípio acima, quero dar uma ênfase com uma frase que Graham traz logo após a apresentação do princípio e cabe muito nos princípios que "investidores de ações fora do radar" e small caps devem seguir. 

Para que uma ação fora do radar tragar retorno por meio de ganho de capital, é preciso que ela seja descoberta por analistas sell side, fundos de investimentos, entrem em índices importantes(Ibovespa, IBRX 100, Idiv etc) para fazerem parte de ETFs, por exemplo. 

Sem liquidez não há movimentação de preço e o preço da ação não tem como refletir seus fundamentos, por isso que essas ações são as que geralmente têm mais assimetria entre preço e valor: porque ainda não foram descobertas, mas quando o são... ninguém segura (vejam o caso da CSU CardSystem quando foi "descoberta" e indicada para compra).

Graham (p. 524) diz: (...) você não está certo nem errado porque a multidão discorda de você. Você está certo porque seus dados e seu argumento estão certos. Similarmente, no mercado de capitais, coragem se torna uma virtude suprema após conhecimento adequado e um julgamento testado.

Finalizando o livro de fato, ainda na página 524, Graham diz algo que nos faz ficar alerta com os fundos ativos e nós mesmos que buscamos bater o mercado toda hora: (...) Alcançar resultados satisfatórios nos investimentos é mais fácil do que as pessoas pensam; alcançar resultados superiores é mais difícil do que parece. 


NÍVEL DE PROFUNDIDADE/ACESSIBILIDADE

Muito profundo em boa parte do livro, mas tudo é muito bem explicado para qualquer um poder entender.

Por exemplo, quando ele fala sobre daytrade, ele usa um aposto explicativo para definir daytrade. Além disso, o livro contém inúmeras notas de rodapé e notas de fim de texto.

Com a devida atenção, como eu enfatizei no início do post, qualquer pessoa interessada conseguirá acompanhar bem o livro e poderá tirar várias lições importantes dele.

A QUEM É INDICADO

O livro é indicado a qualquer tipo de investidor, do mais iniciante ao mais experiente, e deve ser lido novamente e revisado de tempos em tempos.

Esse foi o motivo pelo qual eu busquei selecionar bem os trechos em destaque, para servir como um bom resumo para mim. Assim não terei que ler o livro todo, todas as vezes em que precisar.

VALE À PENA?

Eu comprei o livro em 2015, usado (sou um value investor), por US$ 9,76 na Amazon. Atualmente, vocês podem encontrar ele até por US$ 3,99.

No Buscapé, o menor preço do livro é R$ 57,11.

Apesar de alguns conceitos um pouco desatualizados (e outras críticas que eu fizer), o livro vale à leitura, principalmente para aqueles que querem começar a investir pensando no longo prazo. Basta saber que Warren Buffett disse que "esse livro é de longe o melhor livro sobre investimentos".

Como disse Buffett (p.xiv): com Graham como seu guia, é garantido que você se torne um investidor muito mais inteligente.



OUTROS LIVROS DE BENJAMIN GRAHAM:

Security Analysis


A interpretação das demonstrações contábeis




ÚLTIMAS REVIEWS PUBLICADAS NO BLOG

Todas as reviews publicadas aqui no blog poderão ser acessadas clicando aqui.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Em dezembro finalmente conhecerei a UFPA. Darei um curso de dois dias com o básico de métodos quantitativos aplicados à pesquisa contábil.

Vamos lá!


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Postei na última segunda-feira uma análise da PIN (probability of informed trading) da ação da JBS ($JBSS3) e do dólar, apontando que há evidências de negociações anormais no período pré-vazamento da delação. Mais informações sobre o modelo da PIN podem ser obtidas na tese de doutorado de 2012 do Professor Orleans Silva Martins (clique aqui).

Coincidentemente, no mesmo dia em que divulguei o texto aqui no blog, foi divulgada a notícia de que os irmãos Batista se tornaram réus por insider trading (uso indevido de informações privilegiadas no mercado financeiro) e que a CVM estava abrindo um processo administrativo sancionador a partiri das investigações.

Enfatizo mais uma vez que não estou julgando os irmãos Batista por nada. Estou analisando apenas evidências de movimentos fora do comum com as ações da JBS.

Então vamos lá a mais algumas evidências sobre o caso:

ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS ADICIONAIS: volume financeiro de negociações com a ação JBSS3

No ano de 2017 a $JBSS3 teve um volume financeiro médio diário de R$ 115 milhões (dados até 27/09/2017, coletados na Economatica), sendo que antes do dia 18/05/2017 (primeiro pregão da bolsa após o vazamento) o volume médio diário era de R$ 96 milhões.

Após o vazamento, o volume médio diário passou a ser de R$ 134 milhões (volume aproximadamente 40% superior ao do período pré-delação), provavelmente pelo aumento da especulação com notícias da empresa.

O gráfico abaixo apresenta o comportamento do volume financeiro diário da ação.

Volume em log natural, para melhor visualização do gráfico

Para não usar apenas o olho para verificar a anormalidade no volume financeiro negociado antes de sair um fato relevante importante que justificasse tal volume, vamos analisar mais alguns números:

1) A JBSS3 faz parte do principal índice de ações da nossa bolsa de valores (Ibovespa, ou IBOV para os mais íntimos), representando 1% do índice. Por este motivo, calculei quanto do volume financeiro da JBSS3 representa do volume total negociado no IBOV.
Na nossa amostra de 2017, o volume da JBSS3 representou 1,61% do volume do IBOV. Antes do vazamento, esse percentual era de 1,34%. Após o vazamento o percentual passou a ser de 1,87%.
No dia 16/05/2017 e no dia 17/05/2017 (1 dia antes do primeiro pregão pós vazamento), os percentuais foram de, respectivamente, 2,84% e 2,38%. A média desses dois dias equivale a 1,63 vezes a porcentagem média de 2017, 1,33 vezes a porcentagem do período pré-vazamento e 0,76 vezes a porcentagem pós-vazamento.

2) Como podemos observar no gráfico do comparativo do volume da JBSS3 e IBOV, houve, aparentemente, uma alteração de comportamento do volume antes e após o vazamento da delação. 
Utilizando-se um teste t de médias, verificamos que o volume antes e depois (retirando o dia 18 da amostra, por ser o evento chave)  do vazamento, as evidências apontam que nós podemos rejeitar a hipótese nula de que o volume financeiro médio diário seja igual antes e após o vazamento (estatística t = -3,2370, 91 graus de liberdade e p-value = 0,0017).
Como a amostra não tem distribuição normal e o desvio-padrão (e a variância) não é homogêneo antes e depois (desvio-padrão do volume é quase duas vezes maior, após o vazamento da delação - estatística f = 0,2581, 91 e 91 graus de liberdade e p-value = 0,0000), resolvi ser conservador e usar uma versão não paramétrica do teste t de média. O teste de Mann-Whitney corroborou o resultado encontrado anteriormente com o teste t (estatística z = -2,442 e p-value = 0,0146).
3) Para detalhar um pouco mais a análise, realizei o mesmo teste t de média para verificar se o volume negociado nos dias 16 e 17/05/2017 foram normais (dentro da média pré- e pós-vazamento).
Com 91 graus de liberdade, temos as seguintes estatísticas para o período pré- e pós-vazamento: t = -22,7678 (p-value = 0,0000) e t = -7,9681 (p-value = 0,0000).
Essas evidências, mais uma vez, corroboram a hipótese de que o volume naqueles dois dias foi diferente do que acontecia normalmente com a empresa.
 O volume financeiro desses dois dias é comparável, por exemplo, ao volume financeiro do dia da deflagração da Operação Carne Fraca (17/03/2017), que derrubou as ações da JBS e BRF. A diferença é que o fato realmente relevante só deveria ter impacto no mercado no dia 18/05/2017, não nos dias 16 e 17/05/2017, fazendo com que o volume financeiro saísse do normal.
Dias sem barras são dias sem pregão

 4) Por fim, se olharmos para a variação do volume financeiro da JBSS3, percebemos que é desproporcional com relação ao próprio IBOV, conforme o gráfico abaixo, além de o pico de volume na JBSS3 ocorrer antes do pico do IBOV, que é no dia 18/05/2017.
Os desvios-padrão (e variância) da JBSS3 e IBOV são, inclusive, diferentes estatisticamente (f = 4,6027, 90 e 90 graus de liberdade e p-value = 0,0000). 


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste post eu apresentei mais algumas evidências de que algo incomum aconteceu com as ações da JBS no período pré-vazamento da delação. É possível que alguém tenha tido acesso antecipadamente ao conteúdo da delação e tenha se beneficiado no mercado de ações com isso. Quem foi? Não sabemos ainda.

Essas evidências corroboram a estranheza que foi gerada no mercado pelo fato de os controladores da empresa terem vendido ações, por exemplo, nos dias 16 e 17/05/2017, em um total de R$ 45 milhões (equivalente a 21% do volume negociado nesses dois dias), além de terem vendido mais de R$ 328 milhões ainda em abril (veja aqui o meu post do dia 19/05/2017).

Essas evidências corroboram ainda aquelas apresentadas na última segunda-feira, em que usamos dados de alta frequência e modelos de microestrutura de mercado para estimar a PIN da JBSS3 e dólar (veja aqui).

Agora resta à CVM em conjunto com B3 (nossa antiga Bovespa) e corretoras verificar de onde partiram tais negociações e a justiça julgar os possíveis envolvidos.

Finalizo o post agradecendo a Nicholas Rodrigues (estagiário da Assessoria de Extensão do CCSA/UFPB e analista acadêmico da Sala de Ações) e ao meu PIBIC Glauco Pordeus, pelo suporte na coleta dos dados.

Vamos torcer para que casos como esses não voltem a acontecer no nosso mercado que já é tão frágil.

Apesar de o Professor Filipe Duarte ter feito o treinamento conosco diretamente com a base de dados aberta e online, ele nos disponibilizou um material com os printscreens das telas, para auxiliá-los quanto ao manuseio do programa.

Lembrando que, caso tenham alguma dúvida, sempre há a opção de buscar buscar também algumas informações no manual.


No vídeo desta semana, Michelly Vieira faz um resumo sobre o que devemos levar em consideração ao estimar o crescimento da empresa que estamos avaliando.

Confiram abaixo:


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A JBS, por meio de seus controladores protagonizou um dos casos mais polêmicos do mercado de ações brasileiro nos últimos anos. É sobre esse caso que quero mais uma vez falar, porém não estou fazendo acusação a ninguém. O objetivo do post é analisar se houve ou não alguma evidência de negociação anormal no caso da delação.

Antes de tudo, gostaria de informar que eu dividi o post em duas partes, fora a introdução: (1) a primeira trata da denúncia do Ministério Público Federal e a (2) segunda trata da análise dos movimentos dos preços das ações.

Assim, o leitor poderá pular, caso queira, para a seção que for de seu interesse.

Obs.: uma pequena importante observação antes de continuar a postagem, agradeço ao meu orientando de PIBIC Glauco Graco Pordeus por ter tido um grande trabalho de coletar os dados e rodar os modelos para mim. Aqui vocês podem ter acesso a um vídeo feito por ele, sobre como coletar dados de alta frequência.

INTRODUÇÃO

Pouco antes de ser divulgado um acordo de delação premiada dos seus controladores, houve uma grande movimentação de compra de ações e dólares por parte da tesouraria da empresa e venda de ações por parte dos controladores.

Dessa forma, o objetivo desse post é analisar se houve ou não evidências de negociações anormais com as ações da JBS, em torno da divulgação do acordo de delação premiada feito pelos seus acionistas controladores.

Eu não estou analisando aqui se a empresa tinha ou não programa de recompra de ações aprovado ou se precisava ou não comprar dólares

O foco é puramente na movimentação do preço da ação e também dos contratos de dólar futuro, como exemplo de aplicação do modelo de microestrutura de mercado de Easley e O'Hara (2002-Journal of Finance).

Os modelos de microestrutura de mercado, para os menos familiarizados, nos fornecem informações sobre eventos baseados em informações privadas, sendo que a literatura empírica sobre este tema aponta que existe ligação entre as informações privadas e as ofertas de compra e venda das ações (Easley & O'Hara, 2002).

Para mais aplicações empíricas, é possível ler alguns artigos brasileiros que nós publicamos sobre isso:
Avaliação de empresas e probabilidade de negociação com informação privilegiada no mercado brasileiro de capitais
Negociação com informação privilegiada e retorno das ações na BM&FBOVESPA

Existem também vários posts aqui no blog em que eu cito o caso da JBS e que vocês podem ler, caso tenham interesse em entender o que aconteceu, do meu ponto de vista.

No primeiro link, do dia 19, eu tentei explicar de forma direta o que aconteceu e porque que eu não achei correto/ético as negociações e como isso prejudica o nosso mercado de capitais:
19/05/2017 - Operações da JBS: até quando a CVM vai permitir isso?
25/05/2017 - Reclamação enviada à CVM
09/06/2017 - Negociações dos insiders: sempre aos 45 do segundo tempo
14/07/2017 - Negociações dos Insiders: JBS
Existe também a possibilidade de buscar em outras fontes (como alguns jornais e sites especializados).


DENÚNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF)

A denúncia do MPF inicia basicamente dizendo o seguinte (acesse aqui o documento completo):
Consta dos autos que JOESLEY BATISTA na qualidade de Diretor Presidente  da  J&F  INVESTIMENTOS  S/A  e  Presidente  da  FB  PARTICIPAÇÕES (controladora da JBS) e  WESLEY BATISTA,  na qualidade de Diretor Presidente da JBS S/A, durante o período de 02 de março de 2017 a 17 de maio de 2017, (1)   utilizaram informação relevante (Acordo de Colaboração Premiada) não divulgada ao mercadode que tinham conhecimento e da qual deveriam manter sigilo, capaz de propiciar, para eles vantagem indevida, mediante negociação, em nome próprio com valores mobiliários,  praticando, assim o delito de Insider Trading previsto no Artigo 27, D, da Lei 6.385/76
Os grifos são meus.

Dessa forma, partimos do pressuposto de que as evidências analisadas pelo MPF levam a crer que houve insider trading ilegal. Mais a frente eu falarei um pouco sobre algumas evidências de negociações anormais, tanto nas ações da JBS, quanto no dólar futuro.

Outro trecho merece destaque na denúncia por evidenciar o montante do estrago no nosso mercado de capitais, que já é tão desacreditado. O trecho cita o laudo da perícia realizada por agentes federais:

“Em resumo, o vazamento da delação e de conteúdo de gravações na noite de 17/05 causaram no dia 18 (e no mercado norte-americano ainda no próprio dia 17) dentre outros efeitos extremos, quedas do Ibovespa   (8,8%   -   maior  queda  em  1  dia  desde  2008)  e  de  JBSS3 próxima a 10%, Petr4 de 15%, o EWZ próximo a 16% e o dólar à   vista alta de cerca de 9%, a maior em um dia desde a maxidesvalorização  cambial de janeiro de 1999” (fls. 118)

A denúncia do MPF apresenta diversas evidências de insider trading e manipulação de mercado.

Recomendo a leitura completa, para os interessados neste assunto tirarem suas próprias conclusões.

Agora vamos a algumas evidências de negócios anormais na ação da JBS.

EXISTEM EVIDÊNCIAS DE INSIDER TRADING NA JBS?

No ano de 2017 todo, os controladores da JBS só começaram a vender ações da empresa a partir do dia 20/04/2017, próximo da data da assinatura do acordo de delação premiada, que ocorreu no dia 03/05/2017. 

Por si só, isso não é efetivamente uma grande evidência de que alguém negociou com informação privada, mas é um fato pelo menos curioso.

Vamos aos números...

ANÁLISE DOS MOVIMENTOS ANORMAIS NAS AÇÕES DA JBS

Se avaliarmos a probabilidade de negociação com informação privada (PIN), podemos verificar que no período pré-vazamento da delação há uma alta probabilidade de negociações "bem informadas" na ação da JBS ($JBSS3) e que essa probabilidade é crescente até o dia do vazamento, quando ela cai abruptamente.

Isso quer dizer que é possível que alguém estivesse fazendo negociações anormais dias antes do resultado da delação ser vazado.

A delação foi feita no dia 03/05/2017, tendo sido homologada em 11/05/2017. O vazamento ocorreu no dia 17/05/2017 (ver aqui). 

Cabe ressaltar que no dia 17/05/2017 os controladores da JBS venderam pouco mais de R$ 35 milhões de reais em ações da empresa. No mês de maio, os controladores venderam em torno de R$ 155 milhões em ações da empresa.

PIN da JBSS3, com janelas móveis de 60 dias finalizando na data indicada em cada barra do gráfico

Olhando agora especificamente para um dos componentes da PIN (o alpha) que representa a probabilidade de ocorrer um evento informacional naquele período, percebemos no dia antes do vazamento que essa taxa é mais alta do que nos períodos anteriores e muito mais alta com relação ao mesmo período do ano anterior.

Todavia, não houve nenhum fato relevante que justificasse tal chegada de eventos informacionais, conforme podemos verificar no site de relações com investidores da empresa.

Sobre os fatos relevantes da JBS, houve uma divulgação no dia 10/02/2017 (aprovação do novo plano de recompra de ações, que possibilitou que a tesouraria pudesse comprar as ações que estavam disponíveis para venda - inclusive dos próprios controladores) e outro no dia 13/03/2017 (aquisição da Plumrose).

Após isso, o próximo fato relevante apenas foi divulgado no dia 26/05/2017, sobre a eleição de Tarek Farahat para a presidência do Conselho de Administração.

Ou seja, nenhum fato relevante nos arredores do vazamento da delação.



ANÁLISE DOS MOVIMENTOS ANORMAIS NO DÓLAR FUTURO

Analisando agora os movimentos anormais no dólar futuro, verificamos que as maiores PINs são nos dias anteriores ao vazamento da delação, evidenciando mais uma vez que alguém fez o mercado movimentar anormalmente.



A evidência acima é corroborada pelo alpha pré-vazamento da delação que subiu muito fortemente, comparado com o ano e meses anteriores.



CONCLUSÃO

As evidências apontadas pelos modelos de microestrutura de mercado evidenciam que aconteceram negociações anormais no período pré-vazamento da delação, contudo nossos dados não permitem informar quem foi que negociou com tais informações.

Os nossos dados são apenas relativos aos preços e horários das negociações, com frequência de 1 minuto.

Para saber efetivamente quem negociou, é preciso que haja um trabalho mais aprofundado da CVM, que tenho certeza que já está sendo feito, ou até mesmo finalizado.

Não estou acusando os controladores de terem usado informações privadas, com a análise dos dados de microestrutura, apenas estou apontando que houve algo estranho naqueles dias que antecederam o vazamento.

P.s.: uma pequena importante observação antes de finalizar a postagem, agradeço ao meu orientando de PIBIC Glauco Graco Pordeus por ter tido um grande trabalho de coletar os dados e rodar os modelos para mim. Aqui vocês podem ter acesso a um vídeo feito por ele, sobre como coletar dados de alta frequência.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Recentemente os Professores Marcelo Perlim e Henrique Ramos da UFRGS publicaram um artigo na Revista Brasileira de Finanças, apresentando um pacote no R para baixar dados de alta frequência na Bovespa.

Esses dados podem ser utilizados para diversas aplicações, dentre elas a estimação da PIN.

Como eu tenho alguns alunos que trabalham e têm interesse de trabalhar com assimetria informacional, solicitei ao meu PIBIC Glauco Pordeus que fizesse um vídeo explicando como usar o pacote do R.

Posteriormente ele fará um vídeo sobre como estimar a PIN também no R.


Abaixo está o script usado por Glauco no vídeo:

# http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbfin/article/view/64587/65702
# https://cran.r-project.org/web/packages/GetHFData/GetHFData.pdf

# AUTORES: Marcelo S. Perlin e Henrique P. Ramos, Ambos do da UFRGS

install.packages("GetHFData")

library(GetHFData)

getwd ()
setwd ("c:/Users/glauc/Desktop")

# PARÂMETROS 'info'
first.time <- '10:00:00'
last.time <- '18:00:00'
type.output <- 'agg'
    # Define a periodicidade 
agg.diff <- '1 min'
    # 'sec' or 'secs', 'min' or 'mins', 'hour' or 'hours', 'day' or 'days'
type.market <- 'equity'
    # ou 'options', 'BMF'.
my.assets <- c('PETR4','PETR3')
    # ou só PETR
first.date <- '2017-10-11'
    # Dados disponíveis só a partir de 06/2015
last.date <- '2017-10-11'
only.dl <- TRUE
    # or FALSE

# PARÂMETROS 'crú'
first.time <- '10:00:00'
last.time <- '18:00:00'
type.output <- 'agg'
agg.diff <- '1 min'
my.assets <- c('PETR4','PETR3')
type.market <- 'equity'
first.date <- '2017-10-11'
last.date <- '2017-10-11'
only.dl <- TRUE

# IMPORTANDO DADOS

# IMPORTAÇÃO DE ATIVO'S ESPECÍFICO'S
DB <- ghfd_get_HF_data(my.assets = my.assets, type.market = type.market,
                           first.date = first.date, last.date = last.date,
                           first.time = first.time,  last.time = last.time,
                           type.output = type.output,  agg.diff = agg.diff) #only.dl


# IMPORTAÇÃO DE TODOS OS ATIVOS
DB1 <- ghfd_get_HF_data(#my.assets = my.assets, 
                       type.market = type.market,
                       first.date = first.date, last.date = last.date,
                       first.time = first.time,  last.time = last.time,
                       type.output = type.output,  agg.diff = agg.diff) #only.dl

# SELECIONANDO UM ATIVO

PETR4.1 <- subset(DB1, InstrumentSymbol=='PETR4') 
      # ESTE PROCEDIMENTO DEVERÁ SER FEITO CASO TENHA IMPORTADO OS DADOS POR MEIO DE ATIVOS ESPEPECÍFICOS, COM MAIS DE UM ATIVO

PETR4 <- data.frame(PETR4.1[,1],PETR4.1[,3],PETR4.1[,5])

names(PETR4) <- c('Ticker','DateTime','LastPrice')

# SALVAR TABELA

setwd ("c:/Users/glauc/Desktop")
write.table(PETR4, file = "PETR4.txt", sep =';')