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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

 Já adianto que a minha opinião é que em 2022 eu não acho que veremos um Rali de Natal na bolsa de valores brasileira - a menos que o cenário macroeconômico local mude. Estamos com um nível de incerteza política e econômica muito alto. Todavia, caso você como investidor queira tentar se aproveitar de um eventual Rali de Final de Ano, leia o texto e tome cuidado.


No dia 02/12/2022 o E-Investidor do Estadão publicou uma matéria com dados da Economatica e com comentários meus. Dessa forma, aproveito o gancho da matéria para explorar alguns dados com um pouco mais detalhe.


Vamos lá?


Entenda o que é e porque ocorre o Rali de Natal na bolsa de valores

O que é o Rali de Natal na bolsa de valores?

Na bolsa de valores, as pessoas acreditam que no final de ano há uma valorização nos preços dos ativos com a chegada do final do ano, que costuma durar até meados de janeiro. 

Nos EUA (ou em inglês) os investidores chamam este evento sazonal de “Santa Claus Rally”. No Brasil também pode ser chamado de “Rali de Final de Ano”.

Entendido? Agora vamos entender o que justifica o Rali de Natal.



O que justifica o Rali de Natal?

Eventos sazonais que eventualmente impactam a bolsa de valores, como o Rali de Final de Ano, normalmente são explicados por questões psicológicas/comportamentais dos investidores.

Abaixo eu listo algumas hipóteses que ajudam a explicar o Rali de Natal:

  1. No final do ano as pessoas costumam estar mais otimistas;
  2. Volume de negociações, especialmente de grandes institucionais, cai. Isso faz com que a bolsa seja “comandada” por investidores menores e potencialmente mais otimistas;
  3. Nos EUA tem também uma questão tributária no final do ano, em que o mercado se desfaz de investimentos perdedores e começa a reajustar a carteira no último trimestre;
  4. Efeito Manada, com muita gente esperando o Rali de Natal acontecer e se posicionando para aproveitá-lo. Isso faz com que as pessoas comprem ações esperando pelo rali e, consequentemente, mais pessoas comprem, fazendo com que a bolsa suba. Seria mais ou menos como eu dizer a uma pessoa que daqui a 10 minutos vai cair um copo de água no livro dela... 10 minutos depois eu vou lá e derrubo um copo de água no livro e digo que acertei.
  5. No Brasil, especificamente, temos o 13º salário e também as férias dos políticos. Políticos costumam trazer bastante volatilidade para a bolsa, especialmente em momentos mais acalorados como este que estamos vivendo em 2022. Suas férias têm poder de acalmar as coisas até meados de fevereiro.

O que os dados nos dizem sobre o Rali de Final de Ano no Brasil?

Eu adoro uma frase bem conhecida que diz que os dados falarão com você se você estiver disposto a ouvi-los. 

Sendo assim, resolvi dividir esta última seção antes da conclusão em 2 perguntas, para responder com dados do Ibovespa entre 1986 e 2021:
  1. Em dezembro nós temos retornos realmente maiores por causa do Rali de Natal?
  2. A média dos retornos de dezembro é estatisticamente diferente do retorno do restante do ano?
E aí, está disposto a ouvir o que os dados têm a dizer? Vamos nessa!

Em dezembro nós temos retornos realmente maiores por causa do Rali de Natal?

Dados do IBOV de 1986 a 2021 mostram que abril e julho foram os meses com maior quantidade de retornos positivos (27 meses positivos contra 9 negativos). Depois vem setembro e dezembro (25 meses positivos contra 11 negativos).

A tabela abaixo mostra os retornos mensais do Ibovespa de janeiro de 1986 até dezembro de 2021, além de agregar os retornos médios em cada um dos meses da amostra e o desvio-padrão:



Explorando os retornos mensais do Ibovespa

Abaixo eu apresento alguns destaques a partir da análise descritiva dos retornos mensais do Ibovespa, em busca de evidências do Rali de Natal:

  • Janeiro foi o mês com o maior retorno médio (12,45%), contra abril (11,68%) e dezembro (11,16%).
  • Retorno não vem de graça. Para ter ganhos, você precisa assumir riscos. Se olharmos para a volatilidade dos meses com maiores retornos médios, veremos que janeiro tem a maior volatilidade medida pelo desvio padrão dos retornos (29,25%). Março está em segundo lugar como mês mais volátil da B3 historicamente (26,50%), seguido por dezembro (24,92%) e abril (22,67%). Todos os outros meses têm volatilidade abaixo dos 20%.
  • Sabendo da volatilidade mais alta nos meses com retornos mais altos, é importante olharmos para a relação retorno/risco. Abril tem a melhor relação histórica de retorno/risco: 0,52. Em segundo lugar vem fevereiro com 0,51 e em terceiro julho com 0,51. Dezembro está em quarto lugar na relação retorno/risco com 0,45.
  • Esse resultado indica que apesar de dezembro ter historicamente retornos mais altos do que a grande maioria dos meses, na média, a compensação do risco está apenas em quarto lugar – o que também não é tão ruim, dado que temos 12 meses.
  • O investidor precisa entender esses riscos antes de tentar explorar um eventual rally de natal

Dezembro tem retornos historicamente altos na média (que pode ser distorcida)

Eventos extremos (outliers) podem acabar distorcendo a média dos retornos. Por isso vamos olhar agora a mediana e ver se os resultados se mantém estáveis:
  • Olhando os dados em mais detalhes, vemos certa “aleatoriedade” entre os meses e também em alguns anos temos retornos muito positivos ou muito negativos que não se repetem
  • Essas observações distorcem a média dos retornos fortemente. Então se olharmos para a mediana, para não sofrer o efeito dessas distorções causadas pelos “outliers”, abril continua em primeiro lugar com retorno mediano de 6,23%, seguido de dezembro com 4,54% e fevereiro com 3,71%.
  • Abril e dezembro parecem ser consistentes como os meses que historicamente o Ibovespa mais valorizou.

A média dos retornos de dezembro é estatisticamente diferente do retorno do restante do ano?

Estatisticamente falando, não temos evidências suficientes para dizer que as médias dos retornos mensais são diferentes, por meio de um teste Anova (F = 1,06 e p-value = 0,3936).

Em outras palavras, historicamente podemos dizer que, na média, os retornos mensais entre os meses não são estatisticamente diferentes.


Vale a pena tentar explorar o Rali de Natal?

Cada um sabe o que faz com seus investimentos, porém como Professor, preciso destacar os riscos de se tentar explorar eventos como o Rali de Natal. 

Não há nada que garanta que haverá Rali de Natal, apesar de dezembro historicamente entregar retornos aparentemente mais altos do que o restante do ano - mas sem diferença estatisticamente significativa.

Na média pode ser que dezembro tenha um dos maiores retornos do ano, historicamente, mas é na média. Isso não quer dizer que o Rali de Final de Ano aconteça todos os anos, especialmente em um final de ano tão complexo para a bolsa de valores brasileira, a B3, com uma incerteza muito alta (falei sobre a incerteza neste texto aqui).

Aproveitando: bom Natal! 

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Meu comentário completo, com base nos dados da Economatica está na matéria do Metrópoles.

Com Bolsonaro tínhamos sempre a sombra do risco de intervenção na política de preços.

Com Lula voltaremos a ter o temor da alocação de recursos no mínimo equivocada e a possível alteração na política de dividendos da Petrobras



Relembre eventos recentes que derrubaram as ações da Petrobras na bolsa

Intervenção de bolsonaro faz Petrobras cair mais de 8%

"Após intervenção do presidente Jair Bolsonaro na política de preços de combustíveis da Petrobras, as ações da companhia despencaram mais de 8% nesta sexta-feira, 12, na bolsa de valores brasileira".



Matéria completa na Veja.


Com interferência de Bolsonaro, Petrobras tem perda histórica de valor de mercado

"A Petrobras perdeu mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado desde a última quinta-feira (18/2), em meio à crise gerada pela decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de trocar o comando da empresa para conter a alta de preço dos combustíveis."




Matéria completa na BBC.


Ações da Petrobras caem mais de 7%, após Bolsonaro criticar política de preços da empresa

"O presidente disse que a paridade internacional é resultado de uma legislação errada feita no passado e que ela não pode continuar, no mesmo dia em que o preço do petróleo atingiu um pico no mercado externo".



Matéria completa no G1.




Ações da Petrobras caem após Bolsonaro decidir trocar presidente da estatal

"Bolsonaro decidiu trocar Joaquim da Silva e Luna e o efeito imediato foi sentido na Bolsa de Valores, com as ações da estatal sendo negociadas em baixa".



Matéria completa em O Estado de Minas.





Petrobras perde bilhões em valor de mercado após a eleição de Lula

Agora após o caos na transição de governo, com a eleição de Lula, a Petrobras voltou a perder bastante valor de mercado, conforme reportei no texto abaixo:


Aqui está o comportamento das ações PETR4 após a eleição de Lula em 31/10/2022:




Salve, se puder. Ou faça proteção.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Após bagunça com a transição do governo, dólar e juros sobem, com queda da bolsa brasileira, mesmo com principais bolsas no mundo valorizando. Só a Petrobras perdeu mais de R$ 70 bilhões de valor de mercado. Só o governo brasileiro perdeu cerca de R$ 30 bilhões com a desvalorização das principais estatais listadas na bolsa.

Esse estudo usando dados dos indicadores proprietários de incerteza na Economia, produzidos pela Economatica, gerou uma publicação no Metrópoles:

Evolução da incerteza na economia

No mês anterior ao 2º turno da eleição brasileira, a incerteza na economia medida pelos Índices TC de Incerteza nas expectativas dos agentes da economia, Incerteza Geral, Incerteza no Varejo e Incerteza na Indústria caiu respectivamente 12%, 19%, 12% e 16%, respectivamente (média de 14,68% de queda na incerteza da economia).
Todavia, considerando todo este tumulto com a transição do governo, após o domingo do 2º turno, foi possível observar um crescimento de 27%, 15%, 26% e 27%, respectivamente, na incerteza na economia medida pelos Índices TC de Incerteza nas expectativas dos agentes da economia, Incerteza Geral, Incerteza no Varejo e Incerteza na Indústria. 




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Fonte dos dados: Economatica


Dólar e juros para cima, bolsa para baixo

Com toda essa incerteza aumentando, tivemos o dólar subindo, a bolsa brasileira caindo e, especialmente, as estatais caindo muito fortemente.

A título de comparação, no gráfico abaixo é possível identificar o Ibovespa, Banco do Brasil, Eletrobras, Petrobras, DAX-Alemanha e UKX-FTSE-Reino Unido.

Neste período, pós-2º turno, o dólar valorizou 1,73% e o Ibov desvalorizou 4,99%. Se olharmos especificamente para algumas das maiores estatais brasileiras, o Banco do Brasil desvalorizou 7,13%, a Petrobras desvalorizou 10,43% e a Eletrobras chegou a desvalorizar 11,62%.

Em termos monetários, a Petrobras sofreu uma desvalorização de R$ 73 bilhões desde o fechamento da sexta-feira antes da eleição. Banco do Brasil perdeu R$ 13 bilhões e Eletrobras R$ 10 bilhões. Tudo isso ao mesmo tempo em que as principais bolsas globais subiram.



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Fontes dos dados: Economatica


Os juros futuros chegaram a subir 9%, o que aumenta o custo do endividamento das empresas e do próprio governo brasileiro.

Espero, como brasileiro, que as coisas se resolvam rápido.