As normas internacionais de  contabilidade, adotadas integralmente pelas empresas brasileiras de  capital aberto a partir de 2010, causaram variações superiores a 10% em  termos de lucro, para mais ou para menos, em 35% dos casos. No cômputo  geral, no entanto, o impacto é diluído, como mostra a primeira safra de  balanços pelas novas regras, chamadas de IFRS. 
O prejuízo do  grupo de telefonia Oi em 2009 virou lucro bilionário na nova versão,  enquanto a fabricante de autopeças Mahle Metal Leve viu seu ganho recuar  60%. 
As duas estão entre as cem maiores companhias de capital  aberto do país, por receita de vendas, um grupo que lucrou R$ 128,9  bilhões em 2010. 
Se esse número fosse comparado com os dados  referentes a 2009, conforme eles tinham sido divulgados na época, sob as  regras antigas, o crescimento do resultado teria sido de 36,8%. 
Mas  ao se considerar os dados de 2009 republicados em IFRS, o aumento do  lucro foi menor, de 27,7%. Na mesma comparação anual, a receita líquida  somada dessas companhias cresceu 22,9%, para R$ 989,9 bilhões, enquanto o  lucro antes do resultado financeiro e dos tributos subiu 32,4%, para R$  192,1 bilhões. 
O levantamento foi feito pelo Valor Data, com  base em dados divulgados no site da Comissão de Valores Mobiliários  (CVM), e envolveu as cem maiores empresas abertas não financeiras em  termos de receita líquida. 
A diferença de variação se explica  porque o lucro somado das empresas em 2009 subiu 7,1% com a migração do  padrão usado naquele ano para o IFRS completo. O montante subiu de R$  94,2 bilhões para R$ 100,9 bilhões. 
Com a base de comparação mais alta, o crescimento percentual do lucro em 2010 fica menor. 
Entre  as mais de 30 novas regras que foram adotadas a partir de 2010, a que  causou mais impacto nos resultados foi a que trata de fusões e  aquisições. 
No grupo das empresas observadas, o impacto mais  relevante ocorreu na operadora de telefonia Oi. Quando fez o balanço de  2009 com as regras contábeis antigas, a empresa tinha divulgado prejuízo  de R$ 435 milhões. Na nova versão, sob as regras internacionais,  registrou lucro de R$ 4,27 bilhões. 
A principal diferença é o  reconhecimento por "valor justo" da compra da Invitel, controladora da  Brasil Telecom, em comparação com o preço de mercado da participação dos  acionistas não controladores da BrT, uma vez que o negócio foi  concluído em janeiro de 2009, em um momento de baixa das ações no  mercado. 
O aumento do lucro somado das empresas com a mudança no  padrão contábil não significa que todas as companhias passaram pela  mesma situação. Das cem empresas da amostra, 54 tiveram melhora no  lucro, 42 registraram queda e 4 mostraram estabilidade nos resultados. 
Entre  aquelas que viram a última linha do balanço diminuir está a Mahle Metal  Leve. O resultado líquido de 2009 recuou de R$ 53,6 milhões para R$  20,7 milhões de um padrão para outro. A explicação, nesse caso, se deve à  decisão da companhia de atribuir um novo custo para seus prédios,  máquinas e equipamentos, que compõem o ativo imobilizado. O ajuste para  cima foi de R$ 293 milhões no consolidado. 
Como consequência, esse ativo passou a ser depreciado novamente, o que reduziu o lucro. 
O  aumento do lucro somado das empresas no padrão IFRS tinha sido  antecipado por estudos acadêmicos, entre os quais estão os feitos pela  professora Edilene Santana Santos, da Escola de Administração de  Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Eaesp-FGV), e  publicados pelo Valor em duas ocasiões. 
A hipótese principal  desses estudos, que agora se comprova, era de que o sistema brasileiro  de contabilidade antigo era mais conservador, assim como as normas  usadas em países da Europa continental antes do IFRS. 
Considerando  o padrão internacional de contabilidade tanto para 2009 quanto para  2010, a rentabilidade das empresas ficou praticamente estável. Se o  lucro líquido for dividido pela receita correspondente de cada período -  obtendo-se a chamada margem líquida -, chega-se a um indicador de 13%  em 2010 e de 12,5% em 2009. A rentabilidade patrimonial - o lucro sobre o  patrimônio líquido - passou de 15,5% em 2009 para 15,1% no ano passado.  
Boa parte dessa explicação está nas despesas financeiras  líquidas, que pesaram mais em 2010. Em 2009, muitas empresas com dívida  em dólar foram beneficiadas pela apreciação do real, o que contribuiu  para que a conta financeira fosse negativa em apenas R$ 1,1 bilhão. Sem  essa "ajuda" em 2010, a despesa financeira das cem empresas saltou para  R$ 20,7 bilhões, o que acabou reduzindo a última linha do balanço, que  serve como base para pagar os dividendos. 
Olhando para o lucro  antes do resultado financeiro e dos tributos, a margem das companhias  subiu de 18% para 19,4%, o que sugere ganhos operacionais das empresas  em 2010.
Fonte: Valor Econômico in CFC. 
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