Por 
            Luciana Bruno | Do Rio
A 
            Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou ontem instrução que 
            uniformiza o cálculo do lucro operacional antes de juros, impostos, 
            depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) entre as 
            empresas abertas brasileiras. A medida foi bem recebida pelo 
            mercado, e poderá facilitar a análise de investimento, já que 
            atualmente cada companhia tem sua própria metodologia, afirmaram 
            gestores ouvidos pelo Valor.
Segundo 
            José Carlos Bezerra, superintendente de normas contábeis da CVM, a 
            instrução 527 disciplina a divulgação desse indicador. Até agora, o 
            cálculo era feito de forma diferente por cada empresa que optasse 
            por sua divulgação, que é facultativa.
"Existe 
            um cálculo tradicional para o Ebitda, que está nos livros de 
            finanças, e ele tem de ser atendido", explicou o superintendente. A 
            empresa está autorizada a divulgar um Ebitda ajustado, calculado 
            pela metodologia que achar mais adequada, desde que também publique 
            o tradicional.
Ao 
            escolher publicar os dois indicadores, a companhia também deve 
            informar a metodologia. "Tem que divulgar tudo o que for necessário 
            para que o investidor entenda como o Ebitda foi ajustado e possa 
            refazer a conta se achar necessário", disse.
A 
            instrução foi elogiada por gestores de investimentos, que 
            consideraram a regra positiva e necessária para pôr fim à "bagunça" 
            quando se refere ao cálculo usado pelas companhias para chegar a 
            esse indicador.
Segundo 
            André Querne, analista da Rio Gestão, o Ebitda é relevante para a 
            análise de investimentos. "É coerente [a nova regra], pois se cada 
            empresa fizer um ajuste diferente no Ebitda, acaba sendo um 
            indicador não comparável", explicou.
O 
            analista lembra que um dos métodos mais utilizados por gestores é o 
            chamado "valor da firma", que é o FV/Ebitda - a soma do valor de 
            mercado da companhia com sua dívida líquida sobre o Ebitda. Esse 
            cálculo substituiu o P/L, a razão entre o patrimônio e o lucro 
            líquido, indicador utilizado no mercado em meados dos anos 
            1990.
Querne 
            indica que, atualmente, cada empresa adiciona indicadores ao Ebitda 
            para melhor refletir as características do negócio em que atua. 
            "Existem ajustes inerentes de cada empresa e de cada setor. A maior 
            parte das empresas só divulga o ajustado, e não o tradicional", 
            disse.
"A 
            medida é positiva, porque não impede a empresa de divulgar o ajuste. 
            Por outro lado, mostra qual é o padrão", completou. Além disso, a 
            padronização também facilita a comparação com empresas 
            estrangeiras.
Para 
            um analista de gestora que não quis se identificar, hoje o cálculo 
            do Ebitda é "uma bagunça, pois cada empresa calcula da maneira que 
            lhe convém".
Por 
            outro lado, na opinião de Reno Azevedo, analista da JGP Gestão de 
            Recursos, a instrução editada pela CVM não terá impactos. "Não faz 
            muita diferença. O que importa são as informações divulgadas pela 
            empresa, pois nós mesmos fazemos o cálculo do Ebitda, com a nossa 
            própria metodologia", disse.
A 
            mudança passou por extenso debate no mercado. Segundo a CVM, a 
            discussão foi bem recebida a colaboração dos interlocutores 
            "influenciou muito a minuta final".
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