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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Captação de recursos com terceiros

Materiais que serão utilizados para as aulas de captação de recursos com terceiros. Falaremos de LBO, C do Crédito, covenants, dívida pública e dívida privada etc. Abaixo eu também disponibilizo um texto introdutório sobre estrutura de capital.

 

Determinantes da Estrutura de Capital: uma introdução

Imagine uma pequena empresa familiar que decide expandir suas operações. Para isso, ela precisa captar recursos no mercado. Os proprietários enfrentam uma decisão crucial: devem financiar essa expansão por meio de dívida, emissão de ações ou reinvestindo seus lucros? Essa decisão não apenas influencia a estrutura financeira da empresa, mas também gera impactos em seus custos e na relação entre os gestores e os investidores.

Os determinantes do financiamento corporativo e os custos de agência estão entre os principais desafios enfrentados por empresas em todo o mundo. A literatura financeira tem se debruçado amplamente sobre esses temas, oferecendo insights valiosos para a tomada de decisão gerencial e a estruturação financeira das corporações.

O objetivo deste paper é explicar de forma didática os principais determinantes do financiamento corporativo, destacando como esses fatores se relacionam com os custos de agência. O material será voltado para alunos de graduação, buscando apresentar conceitos teóricos e práticos de forma clara e acessível. Ao final, reforçaremos como esse objetivo foi atingido, destacando as aplicações práticas e reflexões futuras sobre o tema.

2. Desenvolvimento

2.1. Determinantes do Financiamento Corporativo

A decisão de financiamento corporativo envolve a escolha entre diferentes fontes de capital:

  • Capital próprio: Recursos provenientes dos acionistas (emissão de ações ou reinvestimento de lucros).
  • Capital de terceiros: Recursos provenientes de dívida (empréstimos bancários, emissão de debêntures, etc.).

Os principais determinantes dessa escolha incluem:

  • Estrutura de ativos: Empresas com ativos tangíveis têm maior facilidade em acessar financiamentos via dívida, pois seus ativos podem servir como garantias.
  • Tamanho da empresa: Empresas maiores tendem a acessar mercados de capitais com maior facilidade.
  • Rentabilidade: Empresas mais lucrativas costumam preferir financiar-se com capital próprio, evitando o endividamento excessivo.
  • Taxa de crescimento: Empresas em expansão podem precisar de capital adicional e recorrer a financiamentos externos.
  • Riscos e incertezas: Ambientes de maior instabilidade econômica podem aumentar os custos de captação, influenciando as decisões de financiamento.

2.2. Custos de Agência

Os custos de agência surgem devido ao conflito de interesses entre gestores (agentes) e acionistas (principais). Esses custos podem ocorrer nas seguintes situações:

  • Excesso de gastos pessoais: Gestores podem usar recursos da empresa para benefício próprio.
  • Investimentos ineficientes: Gestores podem tomar decisões que aumentam seu prestígio, mas não geram valor para os acionistas.
  • Conflito entre credores e acionistas: Credores podem exigir condições mais rigorosas ou cobrar taxas de juros mais altas para mitigar o risco de má gestão.

A teoria da agência, conforme proposta por Jensen e Meckling (1976), introduziu conceitos fundamentais para entender esses custos e propôs mecanismos de controle, como:

  • Incentivos salariais: Alinham os interesses dos gestores com os dos acionistas.
  • Monitoramento externo: Auditorias e avaliação contábil para coibir práticas abusivas.
  • Endividamento controlado: Dívida como ferramenta disciplinadora, limitando recursos excessivos aos gestores.

2.3. Evidências Científicas

As pesquisas de Modigliani e Miller (1958) destacaram inicialmente que, em um mercado eficiente, a estrutura de capital é irrelevante. Contudo, a introdução de impostos, custos de falência e custos de agência demonstrou que a decisão de financiamento afeta diretamente o valor da empresa.

Em países desenvolvidos, estudos como os de Myers (1984) e Fama & French (2002) destacaram a importância do trade-off entre dívida e capital próprio. Em mercados emergentes, pesquisas como as de Booth et al. (2001) apontam que o ambiente institucional mais instável e o menor acesso a financiamentos de longo prazo criam uma dinâmica distinta.

2.4. Aplicações Práticas

As empresas podem adotar várias práticas para otimizar sua estrutura de capital e minimizar os custos de agência:

  • Governança corporativa eficiente: Estabelecendo conselhos independentes e políticas de transparência.
  • Incentivos bem estruturados: Remuneração baseada em resultados para gestores.
  • Gestão ativa da estrutura de capital: Empresas podem ajustar periodicamente sua composição de dívida e capital próprio para melhorar sua alavancagem financeira.

3. Considerações Finais

O objetivo deste paper foi apresentar os principais determinantes do financiamento corporativo e sua relação com os custos de agência. Ao longo do texto, destacamos conceitos teóricos essenciais, pesquisas relevantes e aplicações práticas. Essa abordagem permite que alunos de graduação compreendam o tema de forma clara e com exemplos concretos.

No futuro, espera-se que novos estudos explorem como a evolução tecnológica, como blockchain e smart contracts, pode reduzir significativamente os custos de agência, aumentando a transparência e a eficiência na gestão corporativa.

Referências

  • Booth, L., Aivazian, V., Demirguc-Kunt, A., & Maksimovic, V. (2001). Capital Structures in Developing Countries. The Journal of Finance, 56(1), 87-130.
  • Fama, E. F., & French, K. R. (2002). Testing Trade-Off and Pecking Order Predictions About Dividends and Debt. The Review of Financial Studies, 15(1), 1-33.
  • Jensen, M. C., & Meckling, W. H. (1976). Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs, and Ownership Structure. Journal of Financial Economics, 3(4), 305-360.
  • Modigliani, F., & Miller, M. H. (1958). The Cost of Capital, Corporation Finance and the Theory of Investment. The American Economic Review, 48(3), 261-297.
  • Myers, S. C. (1984). The Capital Structure Puzzle. The Journal of Finance, 39(3), 575-592.

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