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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Contabilidade e Finanças na prova do ENEM

Neste último final de semana eu participei do ENEM, como candidato. Terminei o ensino médio em 2006, há quase 10 anos, porém consegui fazer uma prova razoável (considerando que eu não estudei para nada disso nos últimos anos e que eu nem sabia como era a prova, apenas pesquisei sobre a redação)(não sigam meu exemplo, se quiserem passar em um curso muito concorrido!).

Meu primeiro comentário é sobre a "razoabilidade" da prova. O nível é razoável, com um viés baixista (no sentido de fácil). Contudo, a prova é muito longa, então o candidato que conseguir treinar para fazer a prova rápido, e que estudou, tem uma chance maior de acertar mais.

Até que ponto isso é bom eu não sei, pois quantidade pode não ser uma boa proxy para qualidade. Porém, a prova fica mais "acessível".

Sobre o primeiro dia, não tenho muito o que falar. Fui bem na primeira parte, de "humanas". Geografia e história eram as disciplinas que eu mais gostava no colégio, depois veio matemática. Química e biologia definitivamente não me faziam bem. Fui bem na primeira parte e na segunda eu reverti a média.

Sobre o segundo dia, a prova de inglês e português eram de interpretação de texto. Muito fáceis, mas longas - na verdade a de português, a de inglês foi de bom tamanho.

Agora indo ao ponto que eu quero comentar: a prova de matemática.

Como comentei no meu Facebook, a prova foi "linda" (isso não quer dizer que eu fechei, pois gastei muito tempo na redação e lendo textos - chutei umas 20/90 questões no final do dia, sem ter tempo de fazer). Na minha época de aluno do colégio, o vestibular era muito "quadrado", com foco em fórmulas. A prova de matemática do ENEM foi muito aplicada a problemas empresariais e práticos de forma geral.

Para quem não sabe, eu já fui Professor de matemática no ensino fundamental II (na minha época de aluno era ginásio, da 5ª a 8ª série - faz tempo, já tenho alunos que se formaram na graduação esse ano). Como dava aula no ensino fundamental, com pouca preocupação com o vestibular, eu focava, sempre que possível, em matemática financeira, análise de gráficos em empresas, análise de indicadores de desempenho, investimento em ações (cheguei até a usar o FolhaInvest, simulador da Bovespa com algumas turmas) etc.

Se eu desse aula no ensino médio, quando o assunto fosse matrizes, com certeza eu daria aula de análise de regressão!

Quando me deparei com aquela prova de matemática, eu pensei: é assim que se tem que ensinar matemática no colégio. A matemática tem que ser aplicada, não abstrata (pelo menos no colégio)!

Só para vocês terem uma ideia do que foi abordado nesta bela prova:


  1. Análise de custos
  2. Análise de um gráfico de preço de um determinado ativo, dando uma leve ideia do raciocínio do pessoal que utiliza análise técnica de investimentos em ações;
  3. Concorrência nos mercados e o impacto nos preços;
  4. Espécie simplificada de ferramentas de Pesquisa Operacional (programação linear e coisas do tipo) para produzir mais e gastar menos;
  5. Mais sobre eficiência nos custos;
  6. Probabilidade de um empregador encontrar pessoas para uma vaga de empresa com as características que ele deseja;
  7. Análise gráfica da produção;
  8. Impacto de um novo investimento na qualidade dos serviços prestados;
  9. Matemática financeira, com foco em amortização de um financiamento (SAC);
  10. Exportação de soja [essa aqui foi uma pegadinha, eu errei :( o início da questão estava em toneladas, mas a resposta era em quilos, não prestei atenção, já estava no final do tempo];
  11. Essa da soja tem relação direta com a notação científica muito usada no Excel e que boa parte dos alunos tem problemas, quando dou aula analisando alguma coisa no Excel;
  12. Preço x Demanda;
  13. Mais custos;
  14. Fórmula de Young em medicina... apesar de ter alguma crítica a isso, pelo menos buscou ser prática;
  15. Na prova de português, se não me engano, tinha uma questão sobre uma carta de Graciliano Ramos, no estilo "Relatório da Administração".
Fiquei muito feliz com essa prova. Se os Professores estiverem ensinando matemática assim no colégio, em breve teremos um bom impacto nas disciplinas de contabilidade, economia, finanças, administração, engenharia de produção etc.

Parabéns aos elaboradores das questões!!

Ah, sobre a redação: tema perfeito. Foi bom que apliquei algumas coisas de finanças também. Lembrei da minha amiga Gilmara Mendes do doutorado, que fala de "efeitos perversos" em ONGs. Esses efeitos perversos foram uma parte da minha inspiração, além do ego machista que tem sido atingido pela inclusão de mulheres em cargos importantes nas empresas.

Parabéns também pelo tema da redação, para quem teve a ideia"

5 comentários:

  1. Felipe, tenho minhas experiências com o Enem também, e gostaria de compartilhar. Quando fiz o exame pela primeira vez me assustei com a prova, achei longa( muito texto e pouco tempo). No mesmo ano, eu tinha feito outros vestibulares e nenhum seguia a linha do Enem, sempre muito objetivos, alguns eram necessário "decoreba" de fórmulas. Não que não seja o caso do Enem, pois em algumas situações, por exemplo, química e física é necessário estudar e lembrar-se de algumas "formulazinhas". A prova de linguagem, matemática, história e geografia eu sempre as considerei uma "joia", diferentemente de biologia e física affi! Recordo-me que minha nota foi razoável nessa época, mas entrei na Universidade (UEPB) sem utilizar a nota do Enem. No ano seguinte, fiz o exame outra vez. Foi mais tranqüilo ( sem ansiedade, sem medo de não passar em nada, essas coisas). Recordo-me que meu resultado foi melhor em relação ao ano anterior, mas por quê? A resposta seria a minha tranquilidade no momento da prova? Não! Seria o fato de estar cursando um curso de nível superior, e o nível de conhecimento é maior? Sim, e não. Na verdade, quando eu entrei na graduação, sinceramente eu tomei um "choque". Muitos livros de uma única disciplina para estudar, textos complementares, faz artigo, faz resumo, faz isso, faz aquilo. Gente, eu pensava que no ensino médio eu estudava, mas na verdade parecia que estava no fantástico mundo de Bob. (ressalvo que nunca fui aluna do "fundão", até ia, mas logo voltava a minha banca que ficava quase em cima do birô do professor rs). A graduação nos ensina a pensar de forma diferente, a aplicar àquilo que se estuda, além de nos abrir a cabeça para o mundo, (acho que fui radical, mas comigo funciona assim). E nossas escolas ainda não tem um ensino voltado para uma prova do Enem, prova de conhecimento aplicado( variável um), ou conhecimento de mundo como dizia minha professora de português, Adriana. Não estou afirmando, que o aluno que faz Enem não sabe resolver problemas, não sabe interpretar. Ele sabe, porque ele tem uma base escolar, mas de uma coisa eu sei, ele tem dificuldades e não são poucas. Por quê a forma que o aluno está acostumados é o "feijão com arroz"( qual a raiz cúbica de R?), se colocar ketchup no meio, pronto!( qual a raiz cúbica de R, considerando que R estava na chuva?) A coisa fica feia! O exemplo que dei não tem sentido lógico, mas é dessa forma que o candidato pensa. Não consegue vê além do muro. Enquanto muitos reclamam da prova ( meu irmão está no meio) eu acho justa e bem elaborada pra o mundo que estamos. Acesso a informação, inclusive na palma da mão, quase todo mundo tem (esse quase é maioria). Nosso país, a média é 3 telefones por pessoas , segundo a pesquisa anual de uso de tecnologia da informação, divulgada pela FGV. Então, se você tem acesso à informação, você pode elevar seu conhecimento, e não ficar a mercê de um ensino básico, essa é outra variável.

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    1. Muito bom seu depoimento, apesar de eu não saber quem é! kkk.

      Se puder se identificar, seria bom.

      Isso que você comentou daria uma outro post aqui no blog, pois os alunos da graduação, em média, sofrem em algumas disciplinas justamente por isso: eles não estão acostumados com coisas desse tipo.

      Em Finanças III (uma das disciplinas que eu leciono na UFPB) o curso é todo voltado para estudos de caso. Eu dou um caso, os alunos descobrem um problema e tem que apontar soluções. Boa parte deles tem muitos problemas com esse tipo de aula.

      Imagino que parte disso seja reflexo de como o aluno é formado no ensino básico (e até na graduação): eles querem um problema para resolver. No mercado de trabalho o cliente deles não saberá nem que tem um problema... então ainda estamos muito longe da realidade.

      Obrigado pelo seu comentário!

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  2. Esqueci de me identificar rs. Sorry!
    É a Maria do Rosário.

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    1. Obrigado!! Volte sempre, é bom ter comentários. Principalmente quando são tão bons e complementam tão bem o post.

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