Muito se fala de mercado secundário de debêntures como uma alternativa  para financiar o crescimento do país, principalmente na área de  infraestrutura, um gargalo que o Brasil precisa enfrentar urgentemente  se quiser se consolidar como nação desenvolvida. 
O mercado de  debêntures é um caminho para alongar o crédito e está em pleno  crescimento, mas pode, com certeza, ficar melhor com a expansão do  mercado secundário. O que é preciso para isso acontecer? A resposta, em  parte, vem da própria história do mercado de títulos privados no país. 
Passos  importantes foram dados pelo mercado secundário de debêntures, desde a  criação da CETIP (Central de Custódia e de Liquidação Financeira de  Títulos), que permitiu negociações eletrônicas, até as emissões do BNDES  e da Petrobras, que pulverizaram títulos no mercado. Antes da CETIP, as  operações eram liquidadas com "cautelas", fisicamente, mas nem por isso  deixaram de ter liquidez. 
Durante o período de  contingenciamento de crédito, na década de 80, quando circularam mais de  100 emissões de debêntures, inventou-se a repactuação - semestral e  anual - e as negociações no secundário eram muitas. Isso porque os  títulos eram na verdade créditos bancários e o mercado secundário,  cessões desses créditos. Por serem indexados em OTN, geravam especulação  - e, por isso, havia interesse de compra e venda, com volume, ainda que  relativo. 
Outro fator de liquidez, hoje inexistente, era a  possibilidade das corretoras e distribuidoras carregarem títulos  privados no seu limite de alavancagem operacional. O mercado de cheque  ADM, liquidando em d+1, financiava esses títulos. As corretoras bancavam  lotes de debêntures e CDBs em volume várias vezes superiores ao seu  patrimônio, comprando no mercado primário e vendendo quando as taxas  fechavam, voltando a comprar quando as taxas abriam. 
Eram comuns  consórcios de 50 instituições na colocação de debêntures, ainda que o  volume fosse uma fração das emissões de hoje. O especulador podia bancar  posições e hoje não pode mais, por limitação do Banco Central. 
Na  minha avaliação, falta ainda definir alguns pontos para melhorar a  liquidez das debêntures - e aumentar o volume de papéis é o primeiro  deles. Papéis de longo prazo, títulos com taxa pré ou pós-fixadas  atreladas a um indexador (IGP-M, INPC etc) também são fundamentais para  que haja interesse de compra e venda. Sem isso o mercado secundário de  debêntures fica restrito, já que o investidor, que tem fome de bons  títulos, não vende as boas emissões indexadas ao DI. Além disso, e,  principalmente, o especulador é fundamental para um secundário ativo. 
Com  mais mercado secundário, os investidores se interessam por títulos mais  longos - que, por sua vez, combinam com financiamento para  infraestrutura. E títulos mais longos com juros fixos mais correção  combinam com mais secundário, fechando um circulo de estímulo às  emissões de mais títulos. Afinal, as ações têm prazo infinito e ninguém  se preocupa com isso: o mercado secundário atende a liquidez, se  preciso. 
Os incentivos anunciados recentemente pelo governo às  emissões dirigidas à infraestrutura (diminuindo a sua tributação para  pessoas jurídicas e, no caso de pessoas físicas e estrangeiras,  isentando-as de IR) é um bom começo. Mas é preciso que,  concomitantemente, haja um esforço para redução de custos de custódia na  transação para pessoas físicas, a exemplo do que ocorre no mercado de  ações. Hoje fica claro que home brokers de baixo custo atraíram muitos  investidores e ajudaram a desenvolver o mercado primário de ações. O  mesmo pode ocorrer com debêntures. 
A extensão dos benefícios a  fundos com propósito específico de compra de debêntures de financiamento  de infraestrutura, e voltados para pessoas físicas, deveria ser  estudada com carinho pelo governo, para complementar o incentivo e  minimizar os problemas de liquidez. Mas é bom lembrar sempre que  debênture é crédito, e crédito implica risco. Ainda que seja atraído por  um rendimento melhor, a cultura do investidor pessoa física, em renda  fixa, é de estranhar perdas, diferentemente do mercado de ações.
O  Brasil precisa crescer e a popularização das debêntures é um dos  pré-requisitos para alongamento dos prazos e aumento do volume dos  títulos. Sem o crédito privado, o financiamento de longo prazo em reais  fica restrito às fontes oficiais. É hora então de estruturá-lo. O país  sairá ganhando com isso. 
Mauro Sergio de Oliveira é um dos  criadores do Sistema Nacional de Debêntures (SND) da Andima (hoje  Anbima) e presidente da Oliveira Trust.
Fonte: Valor Econômico
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