Não bastassem as medidas gerenciais de  resultado usadas pelas empresas nos comunicados ao mercado, a própria  contabilidade passa a trazer uma profusão de "lucros" nos seus diversos  demonstrativos. Há o lucro líquido, o abrangente, o das operações  continuadas, o destinado aos sócios da controladora e o dos  minoritários. 
Para quem ainda não notou, o lucro líquido que  aparece agora nos balanços não é comparável ao lucro líquido que se  divulgava no Brasil até 2009. Conforme o padrão internacional, e ao  contrário do que ocorria na regra contábil brasileira, o lucro líquido  consolidado de uma empresa inclui o resultado que pertence aos  acionistas minoritários de controladas. 
O lucro que serve como  base para pagamento de dividendos é aquele que aparece na demonstração  como "atribuído aos acionistas da controladora". Esse dado é que de  alguma forma pode ser comparável - apesar das mudanças contábeis - com o  lucro líquido que se divulgava no passado no Brasil. 
Segundo o  professor Eliseu Martins, especialista em contabilidade e ex-diretor da  Comissão de Valores Mobiliários (CVM), todos essas medidas de lucro que  aparecem nos demonstrativos contábeis agora já estavam lá antes das  mudanças, embora com menos evidência do que no atual modelo. 
Ainda  segundo ele, as informações são dadas no mesmo nível e cada público  pode escolher aquela que mais lhe interessa. Na opinião de Martins, por  exemplo, o novo lucro líquido, que inclui o ganho pertencente a  minoritários de subsidiárias, é melhor para acompanhar o desempenho da  gestão. "Ele abrange o lucro referente a todo patrimônio que está sob  controle da empresa da controladora", diz. Ele destaca também que essa  medida tende a interessar mais aos credores, que querem saber se o  conjunto da empresa vai bem ou mal e é bastante usada na Europa. 
Já  para o investidor que possui ações da companhia aberta a informação que  mais interessa é o lucro atribuído aos acionistas da controladora, pois  essa é a parte que lhe cabe e serve como base para os dividendos. Nos  Estados Unidos, é a medida mais popular. 
Em um exemplo, o grupo  Pão de Açúcar controla a Casas Bahia, o que lhe permite apresentar na  linha de receita todas as vendas da rede. Mas como o grupo detém apenas  50% das ações da Casas Bahia, metade do lucro obtido por essa controlada  ficará com a família Klein, que possui os outros 50%, sem que os  acionistas do Pão de Açúcar participem do resultado. 
O lucro  abrangente soma ao lucro líquido os efeitos que aparecem apenas no  patrimônio, como ajuste de instrumentos financeiros disponíveis para  venda. Já o lucro com operação continuadas exclui receitas e despesas  ligadas a unidades que foram ou serão vendidas ou desativadas, por  exemplo. 
Fonte: Valor Econômico in CFC. 
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