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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Por que não existe debate entre os pesquisadores no Brasil?

No meu pouco tempo de pós-graduação e participação em congressos (congressos de verdade, não esses congressos com palestras para apenas dar dinheiro aos organizadores - que são execrados por mim) tenho visto pouca (ou nenhuma) interação entre os autores e demais participantes. Às vezes encontramos alguém que tem interesse em colaborar gratuitamente com a sua pesquisa, às vezes encontramos alguém que quer entrar como autor na sua pesquisa, às vezes encontramos alguém que quer apenas falar qualquer coisa, às vezes encontramos alguém que quer apenas dizer que seu trabalho não presta (esses aparecem com mais frequência, infelizmente). Contudo, o objetivo dos congressos é discutir ideias para melhorar a produção científica e trazer benefícios para a sociedade - que é quem paga, na maioria das vezes, pela nossa produção.

Mas antes de pensar nisso, eu sempre me questionava: por que os artigos dos EUA, Europa e até de países que estão no "mesmo nível" que o Brasil são tão melhores que os nossos artigos, em média?! Por que, em média, nós apenas replicamos os europeus e estadounidenses? Por quê?!

Tenho pensado em algumas possíveis respostas para esse meu questionamento. Segue o embasamento:
  1. Não há debate nos congressos - com raríssimas exceções. Um exemplo da exceção é o Congresso da ANPCONT que eu fui ano passado e gostei muito, com diversos pesquisadores dando contribuições muito boas às pesquisas alheias. Outros congressos nós não encontramos professores e pesquisadores, apenas pós-graduandos e graduandos, e também não encontramos muita participação (eu apresentei um artigo em uma das últimas sessões de um congresso e na sala só tinha eu, o grupo de pesquisa do qual eu faço parte, o debatedor e dois ou três profissionais do mercado). Uma outra decepção que eu tive foi em um congresso virtual (a ideia é muito boa: um congresso virtual!! Como ninguém pensou nisso antes?!!?), pois quase não havia participação no debate e eu esperava que houvesse, por ser virtual.
  2. Os congressos apenas aceitam artigos inéditos. Sobre isso, felizmente, o Congresso da USP está tentando dirimir esse problema. Esse é um problema gravíssimo, uma vez que se você tiver outras ideias para melhorar o seu trabalho, você terá que submeter direto a um periódico (o artigo inicial) e escrever um outro artigo depois. Isso também nos impede de usar a SSRN para captar colaborações de pesquisadores interessados em nosso tema de pesquisa (uma vez submeti um artigo a uma revista e por ter sido apresentado em congresso o avaliador [SIC!!] disse que não era original, imagine na SSRN). Essa é uma falha gravíssima dos nossos congressos e que poderia ser ajustada facilmente. Nos congressos internacionais você pode submeter seu artigo mais de uma vez, isso faz com que a qualidade da pesquisa aumente. Felizmente temos a USP aqui no Brasil (e a FUCAPE, se não me engano também faz isso, até há mais tempo).
  3. O debate entre o autor e o revisor é muito restrito. As revistas deveriam ter uma espécie de chat para que pudéssemos nos comunicar com os revisores. Isso melhoraria a qualidade da pesquisa e ainda aceleraria o processo de publicação. Mas reconheço que essa é um pouco mais difícil de ser implantada.
  4. Não há debate entre os autores e outros pesquisadores da mesma área. Isso acontece com uma certa frequência nos journals mais relevantes do mundo. O autor submete seu artigo, ele é aprovado. Até aí o funcionamento é normal. O que acontece após isso é o que eu acho muito interessante. Alguém lê o seu artigo e escreve um outro artigo, como se fosse um debate, porém esse artigo é bem curto (e.g. umas seis páginas) e irá tecer algumas críticas e questionamentos sobre o seu artigo já aprovado. Após isso, o autor do artigo original tem a oportunidade de responder ao seu debatedor. Isso é muito interessante e a partir da leitura desse debate você poderá pensar em vários outros problemas de pesquisa, de modo a complementar a pesquisa original. Todos os três artigos são publicados na mesma edição do journal.
Com base nesses 4 pontos (e diversos outros que outras pessoas poderiam pensar) nós poderíamos melhorar a produção científica aqui no Brasil. Qual é a dificuldade de se debater ideias? Nos congressos, eu acredito que tudo é muito corrido, mas poderia haver o estímulo aos participantes lerem os trabalhos, convidando mais pessoas a serem debatedoras dos artigos (fornecendo certificados a eles). Isso seria muito bom para as nossas pesquisas.

Observação: não sei como funciona nas outras áreas, falo apenas da minha.

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