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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Renda fixa ou Bolsa? Alguns comentários sobre a matéria do Infomoney

O Infomoney divulgou recentemente alguns dados evidenciando que a "bolsa" tem perdido para a renda fixa. Eu me senti obrigado a compartilhar uma visão complementar ao que foi divulgado no site deles, pela limitação da análise.

Os dados apresentados estão, provavelmente, corretos (apesar de limitados), mas devemos ler as coisas de forma bem crítica:

1) Quem investe (não especula) não pensa em 3 anos. Por que se utilizou 3 anos nesta pesquisa eu não sei...
2) se você está investindo (não especulando), está pensando em longo prazo de verdade. Se está pensando em longo prazo de verdade, a ação não precisa ter altíssima liquidez - porque você não pretende se desfazer dela a cada semana, você compra e espera boa valorização de longo prazo e bons dividendos.
As oportunidades de valorização de verdade estão nas ações com menos liquidez, que ainda não foram descobertas pela massa. Exemplo recente: CSU Cardsystem.
3) Realmente tem sido muito fácil ganhar dinheiro com renda fixa no Brasil. A pergunta é: será que isso será persistente no longo prazo?
4) Quem acha que não dá para ganhar dinheiro com ações no Brasil, procure por Luiz Barsi, no Google (ou veja aqui no próprio Infomoney, ou também aqui no blog). Ele chama os investimentos em renda fixa de "perda fixa".


Mas vamos entender melhor o mercado de renda fixa:

O que é o Mercado de Renda Fixa?

Mercado onde são negociados títulos que oferecem um retorno fixo ou previsível ao investidor.

Características Principais do mercado de renda fixa: Retorno e prazo definidos, menor volatilidade em comparação com o mercado de renda variável.

Renda fixa tem risco e a depender do tipo de renda fixa, pode ser tão arriscado quanto investir em ações:

Exemplo com títulos públicos:



 

Comparando agora com o Ibovespa e CDI, em um caso específico:



 

Usando a renda fixa para o seu caixa:

Lembre-se de que caixa não é o dinheiro na sua carteira!

       O que é: moedas ou aplicações que podem ser convertidas em dinheiro imediatamente e que não tenha risco de perder o valor investido inicialmente.

       Exemplos:

       Tesouro Selic

       Poupança (até R$ 250 mil por IF)

       CDB de liquidez diária (até R$ 250 mil por IF)

       “Contas Remuneradas” (e.g. NuConta)

       Qual é a função na sua carteira de investimentos: manter uma parte do seu poder de compra, sem correr o risco de perda. Serve como reserva de emergência ou de oportunidades.

 

Títulos de renda fixa:

São “promessas” de pagamento feitas por empresas e governos a quem emprestar dinheiro em troca de juros. Alguns podem ser considerados caixa, quando de curto prazo e baixo risco. Focamos aqui nos “não caixa”.

       Exemplos:

       Tesouro Prefixado

       Tesouro IPCA+

       Debêntures

       CDB sem liquidez diária

       Qual é a função na sua carteira de investimentos: manter uma parte do seu poder de compra, com um pouco mais de o risco de perda, mas retornos mais altos. Geram uma renda previsível que pode ser útil para pagar contas de aposentados, empreendedores, bem como podem ser usados para objetivos de médio/longo prazo.

 

INTRODUÇÃO À PRECIFICAÇÃO DE TÍTULOS DE RENDA FIXA

Sem usar nenhum modelo matemático ou estatístico: você prefere uma unidade monetária hoje ou no futuro?

“Os princípios do valor presente nos permitem calcular exatamente quantas unidades monetárias no futuro valem em termos de ‘hoje’, além de comparar os fluxos de caixa ao longo do tempo” (DAMODARAN, 2011 – The little book of valuation).

Saber a relação de $ 1 agora e $ 1 no futuro é um dos conceitos mais importantes em finanças (ROSS; WESTERFIELD; JAFFE, 2010). E existem três razões básicas para se preferir um fluxo de caixa hoje do que no futuro (DAMODARAN, 2011):

1.       As pessoas preferem consumir hoje do que no futuro (os mais jovens principalmente, segundo pesquisa evidenciada nas primeiras aulas);

2.       A inflação corrói o poder de compra; e

3.       Um FC prometido para o futuro pode não se realizar (risco).

O processo de ajuste do valor do dinheiro é chamado de desconto, com base na taxa de desconto.

Conceitos importantes:

       Par Value ou valor nominal

       A coupon rate é a taxa de “juros” (cupom) que os títulos pagam. No Tesouro Nacional, por exemplo, temos títulos que pagam juros semestrais (e também temos os que só pagam no final do período – junto com a “devolução” do valor nominal). Podemos ter uma taxa semestral de 3%.

       O preço descontado do título é o preço que ele está sendo negociado. Ele depende da taxa de juros praticada no mercado. No Tesouro Nacional, quanto maior for a taxa de juros, menor será o preço descontado do título (obviamente). Quanto mais próximo do vencimento do título, mais sensível o valor de mercado dele será às variações na taxa de juros. Exemplo: R$ 700,00, ao par de R$ 1.000,00.

       A taxa de rentabilidade do título é dada pela razão entre o cupom e o valor que o investidor pagou pelo título. Cuidado: use a taxa efetiva, para efeitos de comparação. Nesse caso, 4,29% a.s. e efetivamente 8,76% a.a.

 

Vamos a um exemplo inicial: um título que tem par value (nominal, ou de face) de R$ 1.000,00, paga cupons semestrais de 3% e foi comprado por R$ 800,00, gera uma rentabilidade efetiva anual de quanto?




Simplificações importantes para o “valuation” de títulos

Perpetuidade vem da soma de uma PG infinita.



       O Governo Chinês emitiu perpetual bonds ao par value ($ 1.000,00), pagando cupons de 5% ao ano. O título foi negociado descontado, a $ 900,00.

1.       Qual é a rentabilidade desse título?

2.       Suponha que as demais variáveis permanecem válidas e a sua taxa de desconto seja de 10% a.a., a custo de oportunidade. Qual seria o valor de mercado do título para você? Dica: use a fórmula simplificada do VP de uma perpetuidade = C/r.

3.       Você compra ou não compra o título? Escreva justificando sua resposta.

Alguns bancos brasileiros já emitem ou emitiram CoCo Bonds (“Contingent Convertible Bonds” são títulos criados após a Crise de 2008, que colocam em risco o capital dos investidores e não dos contribuintes – por isso exigem retornos mais altos).

       O Banco do Brasil foi o pioneiro neste tipo de emissão aqui no Brasil (em 2012).

       Em 2013 o BB emitiu US$ 2 bi em CoCo Bonds, com cupom de 6,25%. Apesar de perpétuo, o título poderia ser resgatado após 11 anos.

       Em 2014 o BB fez nova emissão de US$ 2,5 bi, ao par, com yield de 9%.

 

A perpetuidade crescente é semelhante, só que considera o crescimento dos fluxos de caixa no infinito.



       Você tem um investimento e espera receber R$ 24.000,00 por ano com ele (livre), a partir do ano que vem. O fluxo de caixa recebido é ajustado todos os anos pela inflação, à uma taxa média de 5%. Se você vendesse o ativo, teria a opção de aplicar o dinheiro à uma taxa de 10% ao ano. Qual é o valor presente dos seus fluxos de caixa futuros? A resposta é R$ 480.000!

 

Existem também os títulos de renda fixa, mais comuns, inclusive, que não pagam juros para sempre. Nesse caso, usamos o conceito de matemática financeira chamado de anuidade.



A anuidade crescente é semelhante:



 

Exemplo prático do apreçamento de uma debênture de uma empresa brasileira, omitindo o nome da empresa e ajustando um pouco os dados para fins didáticos:

       Contexto:

       Suponha que uma empresa brasileira chamada "BrasileiraCorp" emitiu uma debênture com as seguintes características:

       Dados:

       Valor Nominal: R$ 1.000,00

       Taxa de juro anual (cupom): 8%

       Prazo de vencimento: 5 anos

       Risco de crédito: Adicional de 2% ao ano sobre a taxa livre de risco

       Taxa livre de risco: 3%

Qual seria o valor justo dessa debênture?

 

Agora olhando para um título público brasileiro, a exemplo do Tesouro Prefixado, como podemos chegar ao “valor justo”?

       Suponhamos um Tesouro Prefixado com as seguintes características:

       Taxa de juro anual prefixada: 6%

       Anos até o vencimento: 3 anos

       Valor de face: R$ 1.000,00

       Taxa de desconto (custo de capital ou retorno exigido): 4%

 

É possível termos aplicações mais complexas, como o caso de uma debênture conversível em ações:

       Valor de face: R$ 1.000,00

       Taxa de juro anual: 5%

       Anos até o vencimento: 3 anos

       Taxa de desconto (custo de capital ou retorno exigido para o título de dívida): 4%

       Preço atual da ação: R$ 20,00

       Número de ações por debênture após a conversão: 50 ações

       Volatilidade da ação: 30%

       Taxa livre de risco: 2%

A precificação de uma debênture conversível envolve dois componentes:

  1. Valor da Debênture como Dívida: Este é o valor presente dos pagamentos de cupom e do valor de face, descontados pela taxa de desconto.
  2. Valor da Opção de Conversão: Este é o valor da opção de converter a debênture em ações, que pode ser calculado usando o modelo Black-Scholes.


Explicação Didática

Valor da Debênture como Dívida

Primeiro, calculamos o valor da debênture se ela fosse apenas um título de dívida comum, que paga juros todos os anos e devolve o valor de face no final. Esse valor foi descontado para o presente usando uma taxa de 4%, resultando em um valor menor que R$ 1.000,00.

Valor da Opção de Conversão

Depois calculamos o valor da “opção” de transformar essa debênture em ações da empresa. Usamos um modelo matemático chamado Black-Scholes para fazer isso. Esse modelo considera o preço atual da ação, a volatilidade dessa ação e a taxa livre de risco para calcular quanto vale a opção de converter a debênture em ações.

Valor Total

Por fim, somamos esses dois valores para obter o valor total da debênture conversível. Este valor é maior que o valor de face (R$ 1.000,00) porque você tem a flexibilidade de converter a debênture em ações, o que é valioso.

 

Marcação a mercado e a curva de juros

Curva de Juros é a representação gráfica da relação entre o prazo até o vencimento de dívidas e suas respectivas taxas de juros.

Tipos de Curva de Juros

       Normal (ascendente): taxas de juros aumentam com o prazo.

       Invertida (descendente): taxas de juros diminuem com o prazo.

       Flat: taxas de juros são constantes em todos os prazos.

Fatores que Afetam a Curva de Juros

       Política Monetária

       Expectativas Econômicas

       Demanda e Oferta por Capital

Como Interpretar a Curva de Juros

       Uma curva ascendente pode indicar expectativas de aumento nas taxas de juros, o que pode afetar a estratégia de investimento de um fundo de pensão.

       Uma curva invertida pode ser um sinal de futuros problemas econômicos, o que exigiria uma revisão das estratégias de investimento.

Marcação a Mercado é a atualização do valor dos ativos de um portfólio com base nos preços correntes de mercado.

       Tipos de Marcação

       Marcação na Curva: Utiliza a curva de juros para precificar o título.

       Marcação no Mercado: Utiliza os preços de negociações reais.

       Marcação no Modelo: Usa modelos matemáticos para precificar títulos mais complexos.

       Marcação na Curva

       Definição: Ajusta o preço do título de renda fixa com base na curva de juros atual.

       Como é feito: Utiliza os pontos da curva de juros que correspondem ao prazo até o vencimento do título.

       Relação com a Curva de Juros:

       A forma da curva de juros afeta diretamente o valor de mercado dos títulos.

       Mudanças na curva implicam em reavaliações dos títulos. 

2 comentários:

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