Essa review já deveria ter saído muito tempo atrás, mas talvez eu tenha perdido o timing do lançamento do livro, porém agora o timing voltou com a nova edição.
Sem mais delongas, vamos lá!
Eliseu Martins: doutor em controladoria e contabilidade pela USP. É um dos principais Professores e pesquisadores de contabilidade do Brasil, tendo ocupado diversos cargos importantes a exemplo de uma Diretoria na CVM e outra no Banco Central. Maiores informações aqui.
Josedilton Alves Diniz: doutor em controladoria e contabilidade pela USP. É auditor do Tribunal de Contas da Paraíba e Professor da Universidade Federal da Paraíba. Maiores informações aqui.
Gilberto José Miranda: doutor em controladoria e contabilidade pela USP. É Professor da Universidade Federal de Uberlândia. Maiores informações aqui.
O tem 13 capítulos (na verdade 12, porque o último não é bem um capítulo de fato) muito críticos e práticos sobre análise das demonstrações financeiras.
O primeiro capítulo é sobre como fazer uma boa análise das demonstrações financeiras, trazendo o clássico Caso Abdul. Esse capítulo é fenomenal. Eu quase negligenciei ele, inicialmente, mas depois de ler algumas vezes acredito que seja um dos principais capítulos do livro.
O capítulo faz uma revisão geral sobre contabilidade e introduz à análise de balanços com o caso de um taxista (Abdul) e a sua família. Não deixem de ler esse capítulo.
O capítulo seguinte (capítulo 2) trata da análise do relatório do auditor. Eu fiquei extremamente feliz quando vi esse capítulo, pois é um item bastante negligenciado por analistas, alunos e até professores. O relatório do auditor é a primeira coisa que eu leio quando vou analisar os números de uma empresa e em muitas delas nós temos informações muito importantes.
Outro capítulo importante, cujo tema é negligenciado costumeiramente, é sobre os "fundamentos contábeis do modelo de negócio" das empresas (capítulo 4). Os alunos e iniciantes em análise de informações contábeis gostam muito de fórmulas e regrinhas de bolso para analisar as demonstrações financeiras. Esse capítulo trata muito bem sobre o impacto do modelo de negócio da empresa na análise das demonstrações. Conhecer o negócio facilita, inclusive, a mineração de informações relevantes sobre a empresa.
Na minha planilha de valuation eu tenho uma aba só para entender o negócio da empresa. Essa abinha é uma das mais importantes - mais importante do que o valor por ação no final da planilha.
O capítulo 7 é mais um grande e ótimo exercício da aplicação da teoria da contabilidade à análise das demonstrações financeiras.
Eu treino jiu-jitsu e de vez em quando fazemos alguns exercícios com as mãos amarradas para estimular a movimentação de quadril e coisas desse tipo. Esse sétimo capítulo é mais ou menos isso.
Como posso analisar demonstrações contábeis sem usar indicadores?! Isso é possível?! Leiam o livro e saberão como!
Os outros capítulos tratam de fluxo de caixa por competência, análise crítica dos indicadores (falarei um pouco sobre isso nos trechos de destaque), inflação, custo de oportunidade, IFRS e, por fim, alguns tópicos relevantes que não foram tratados no livro.
TRECHOS DE DESTAQUE
Os indicadores de prazo médio/ciclo operacional também são analisados da mesma forma. Por exemplo, algumas empresas (indústrias) possuem diversas contas de estoques com prazo de rotação diferente. Se usarmos o total dos estoques, na verdade, estamos estimando o prazo médio de todos os estoques e não de um item específico. Todavia, normalmente, somos analistas outsiders e algumas empresas não divulgam informações suficientes para fazermos a análise da forma mais correta.
Nos indicadores de estrutura patrimonial, um dos principais problemas, quando estamos comparando duas empresas, é que alguns itens de prazo mais longo podem ter idades muito diferentes. Como não sabemos as datas ao certo e não fazemos mais algumas correções e reavaliações dos números contábeis, a comparação se torna falha - mas não completamente inviável.
Sobre os índices de rentabilidade (os que os investidores gostam de olhar mais), os autores dizem que "se comete muita bobagem" no cálculo de utilização deles. A bobagem mais comum é comparar lucro líquido com ativo, para o cálculo do ROA (retorno sobre os ativos).
O ativo da empresa produz lucro operacional, que para ser bem analisado não pode sofrer o efeito da forma como ele é financiado, e o lucro líquido sofre o efeito das despesas financeiras, provocadas pelo passivo financeiro. Dessa forma, calcular o ROA como sendo Lucro Líquido/Ativo, segundo os autores, é uma mistura de dois conceitos (importantes), mas que devem ser tratados separadamente. Para uma análise histórica, o índice pode ter alguma utilidade, mas conceitualmente essa é uma "informação pobre".
Sobre o ROE (retorno sobre o PL, que é o patrimônio líquido da empresa), os autores dizem que esse é o indicador mais importante para os investidores. Isso porque esse indicador demonstra a capacidade que a empresa tem de remunerar o capital que foi previamente investido pelos seus sócios.
A empresa que remunera bem esse capital cumpriu com o seu dever para com os que a criaram e nela investiram tempo e dinheiro.
Devemos levar em consideração para o cálculo desse indicador, sem sombra de dúvidas, o lucro líquido. Isso porque ele é o lucro que realmente sobra, após pagar os terceiros.
Mas o ROE não escapa de problemas! Existe uma confusão sobre qual PL usar, se o do início do período, o do final ou o médio.
Outro problema grave com o ROE é que o PL é a diferença entre o ativo e o passivo. O ativo tem um problema enorme de “valor do dinheiro no tempo”. Se os ativos antigos forem um “pedaço grande da pizza”, isso pode ser um grande problema para o cálculo do ROE.
Normalmente eu escrevo reviews de livros "não didáticos", então essa é uma review um pouco diferente. Por este motivo, não vou destacar aqui citações do livro e fazer comentários sobre elas. Meu foco de destaque aqui é sobre o capítulo de análise crítica dos indicadores, para dar uma vontade maior para vocês que querem ler o livro e aprender a analisar números contábeis de verdade.
Ao longo do capítulo os autores apresentam vários indicadores, segregando por tipos (e.g. liquidez, rentabilidade etc), e depois é feita a análise crítica, apontando os principais problemas e falhas ao se analisar esses indicadores.
No caso dos indicadores de liquidez, por exemplo, é comentado sobre a má classificação de algumas contas, gerenciamento do ativo circulante, problemas temporais e de valor do dinheiro no tempo, sazonalidade e coisas esse tipo. É enfatizado muito fortemente a questão da análise do indicador sozinho.
Nos indicadores de estrutura patrimonial, um dos principais problemas, quando estamos comparando duas empresas, é que alguns itens de prazo mais longo podem ter idades muito diferentes. Como não sabemos as datas ao certo e não fazemos mais algumas correções e reavaliações dos números contábeis, a comparação se torna falha - mas não completamente inviável.
Sobre os índices de rentabilidade (os que os investidores gostam de olhar mais), os autores dizem que "se comete muita bobagem" no cálculo de utilização deles. A bobagem mais comum é comparar lucro líquido com ativo, para o cálculo do ROA (retorno sobre os ativos).
O ativo da empresa produz lucro operacional, que para ser bem analisado não pode sofrer o efeito da forma como ele é financiado, e o lucro líquido sofre o efeito das despesas financeiras, provocadas pelo passivo financeiro. Dessa forma, calcular o ROA como sendo Lucro Líquido/Ativo, segundo os autores, é uma mistura de dois conceitos (importantes), mas que devem ser tratados separadamente. Para uma análise histórica, o índice pode ter alguma utilidade, mas conceitualmente essa é uma "informação pobre".
Sobre o ROE (retorno sobre o PL, que é o patrimônio líquido da empresa), os autores dizem que esse é o indicador mais importante para os investidores. Isso porque esse indicador demonstra a capacidade que a empresa tem de remunerar o capital que foi previamente investido pelos seus sócios.
A empresa que remunera bem esse capital cumpriu com o seu dever para com os que a criaram e nela investiram tempo e dinheiro.
Devemos levar em consideração para o cálculo desse indicador, sem sombra de dúvidas, o lucro líquido. Isso porque ele é o lucro que realmente sobra, após pagar os terceiros.
Mas o ROE não escapa de problemas! Existe uma confusão sobre qual PL usar, se o do início do período, o do final ou o médio.
Outro problema grave com o ROE é que o PL é a diferença entre o ativo e o passivo. O ativo tem um problema enorme de “valor do dinheiro no tempo”. Se os ativos antigos forem um “pedaço grande da pizza”, isso pode ser um grande problema para o cálculo do ROE.
Diversos outros indicadores foram apresentados e devidamente criticados no livro, como os famosos EVA e EBITDA. Leiam com bastante atenção.
NÍVEL DE PROFUNDIDADE/ACESSIBILIDADE
O livro é bem profundo. Minha reação ao ter acesso a ele pela primeira vez foi: UAU!!! Era disso que eu tava falando quando queria um livro com a experiência de muitos anos do autor.
Contudo, o livro é muito acessível e tem uma linguagem muito didática, possibilitando a qualquer pessoa que tenha conhecimento básico de contabilidade ou que já tenha alguma experiência com demonstrações contábeis e sua análise possam usá-lo sem maiores problemas.
Quem achar que o livro é muito avançado, na seção "VALE À PENA?" eu tenho uma recomendação adicional.
A QUEM É INDICADO
O livro é indicado para alunos de graduação e pós-graduação em contabilidade, bem como investidores e analistas de investimentos e de crédito.
Para os investidores, especificamente, eu coloco esse livro ao lado de outras bíblias: Secutiry Analysis (cuja review deve sair até o ano que vem aqui no blog) e O Investidor Inteligente.
VALE À PENA?
É lógico que vale!
Esse é o melhor livro sobre contabilidade escrito por brasileiros, em minha humilde opinião. O livro concorre frontalmente, inclusive, com vários ótimos livros europeus e estadounidenses (dos que eu já li).
Eu não fui aluno do Professor Eliseu Martins, mas já assisti a várias palestras suas, participei de algumas sessões de artigos em que ele foi debatedor e o livro é como se estivéssemos ouvindo ele falar. Isso é sensacional!
Além da experiência do Professor Eliseu estar devidamente registrada no livro, a participação dos Professores Josedilton e Gilberto engrandeceram ainda mais o trabalho, com a inserção de ideias relacionadas à metodologias ativas e ao raciocínio crítico.
Uma grande crítica que faço à maioria dos livros brasileiros é que não conseguimos ver a experiência dos autores. Esse não é um problema para o "Análise Avançada das Demonstrações Contábeis". A experiência deles está ali, para qualquer um que queira ter acesso.
Boa parte (para não usar juízo de valor muito forte dizendo que "a maioria) dos livros brasileiros não nos apresentam a experiência dos autores e se limitam a apresentar fórmulas, fórmulas, regras de bolso e "teorias". Esse não é, definitivamente, um problema para este livro.
Fazendo uma diferenciação entre preço e valor, o livro pode até custar uma quantidade razoável de unidades monetárias, mas com certeza ele vale cada centavo.
Vocês também poderão encontrar uma versão mais light do livro, para alunos mais iniciantes: Análise Didática das Demonstrações Contábeis.
Alguns parágrafos ficaram com fonte diferente, porque copiei de um ppt onde eu tinha escrito eles e não consegui modificar.
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