Cenários e Perspectivas da Contabilidade Ambiental e Social [PARTE II] - Blog ContabilidadeMQ

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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Cenários e Perspectivas da Contabilidade Ambiental e Social [PARTE II]





Dando continuidade a postagem “CENÁRIOS E PERSPECTIVAS DA CONTABILIDADEAMBIENTAL E SOCIAL: PARTE I”, a pergunta que emerge é:

E como estão os horizontes da pesquisa contábil ambiental e social?



As oportunidades de pesquisas envolvendo a Contabilidade Ambiental e Social tem se diversificado ao longo dos últimos anos. Temas oriundos de várias vertentes socioambientais têm sido explorados com abordagens quantitativas, buscando aliar a questão ambiental e social com o interesse pela geração de valor das organizações em função das decisões em prol da sustentabilidade. 
Relaciono a título de exemplo, apenas algumas temáticas que têm sido estudadas acerca do tema Contabilidade Ambiental e Social: 

i) a relação entre desempenho ambiental da empresa e desempenho financeiro;
ii) o impacto nos retornos anormais da inclusão ou exclusão de uma empresa de um índice de ações focado na sustentabilidade;
iii) o efeito atenuante da atividade Corporate Social Responsability (CSR) ou a divulgação ambiental sobre os retornos anormais de uma empresa após um evento negativo;
iv) a relação entre as atividades de CSR e as operações de informações privilegiadas; e
v) o impacto das emissões de carbono e divulgação de carbono no valor da empresa. 
As principais teorias que ancoram estudos na esfera da Contabilidade Ambiental e Social foram relacionadas por Chen e Roberts, em 2010, e se concentram na Teoria da Legitimidade, Teoria Institucional, Teoria da Dependência de Recursos e na Teoria dos Stakeholders
Outros autores, como Deegan, Unerman e Ferguson, na mesma época, relacionaram estudos anteriores que trataram empiricamente os impactos da Teoria da Legitimidade nas decisões de elaboração dos relatórios contábeis de companhias com alto fator de impacto ambiental em suas atividades. 
Deegan e Unerman, por exemplo, concluíram que “parece que, pelo menos para as divulgações ambientais, as ameaças à legitimidade de uma empresa atraem a empresa para incluir mais informações de responsabilidade social em seu relatório anual”.  
Na Europa, em função do príncipe Charles ter lançado o projeto Accounting for Sustainability (A4S), o interesse pelo disclosure ambiental voluntário cresceu nos últimos dez anos, pois, segundo o que foi publicado em 2014 por Fergusson e Unerman, o nível de divulgação de atividades ambientais pelas principais empresas europeias demonstra que relatórios como os que seguem o padrão Global Reporting Initiative (GRI) se tornaram um "tema de escolha estratégica".

Finalizando...

A evolução do pensamento sistêmico voltado para as práticas sustentáveis em organizações públicas e privadas, torna a Contabilidade Ambiental e Social uma ferramenta de auxílio na percepção das consequências ambientais do desenvolvimento e um indicativo excelente para a reorientação de políticas macroeconômicas. Seu registro pode ser feito em termos de unidades físicas, juntamente com a atribuição de valores monetários aos recursos provenientes do meio ambiente.
O objetivo é usar a contabilidade ambiental para inserir o capital natural na análise macroeconômica (exemplo: esgotamento de um recurso natural gratuito ou não na contabilidade de renda nacional). Hoje, para se ter uma ideia, a contabilidade para a formação do PIB ignora a degradação da natureza.
Como matéria-prima para a formação do arcabouço de informações para a Contabilidade Ambiental e Social, o pesquisador Bergamini Júnior, no início do terceiro milênio, elencou que se pode trabalhar com a definição clara dos custos ambientais; a demonstração de sua evolução no decorrer do tempo; a utilização de estimativas oficiais avalizadas pela alta administração da empresa sobre a suficiência dos investimentos ambientais com relação aos volumes mínimos requeridos para minimizar os impactos de suas atividades no meio ambiente; a apresentação de indicadores de desempenho ambiental, em nível setorial, como, por exemplo, o indicador “investimento ambiental” relacionado com investimento total; e a apresentação de comentários sobre o desempenho da empresa de forma comparada à de empresas pares, no país e no exterior, com a utilização de indicadores econômicos.
No que tange à sustentabilidade, os pesquisadores Longaray e Porton, há dez anos, consideraram duas abordagens distintas: i) Sustentabilidade fraca, que considera substituição o capital, onde é sugerido o reinvestimento de uma parcela o lucro proveniente da exploração de recursos naturais de modo a alcançar um consumo constante no tempo; e ii) Sustentabilidade forte, a qual pressupõe que as perspectivas de substituição do capital não são infinitas e por isso sugere que, em vez de esgotar um recurso natural, haja investimento em capital natural de modo que este seja maior ou igual a zero em relação ao lucro obtido com a exploração dos recursos. Quem já explicava tais abordagens em meados da década de 90 era a pesquisadora May, que dizia que na sustentabilidade forte, não somente há uma alteração no direcionamento dos resultados, mas as próprias magnitudes do produto líquido medido tendem a ser maiores do que na perspectiva do custo de uso (sustentabilidade fraca). Isso ocorre porque, em vez de pressupor a possibilidade de reinvestimento em outros ativos, o argumento da sustentabilidade forte presume que o que é explorado hoje não existirá amanhã.
Enfim, entre os desafios para o amanhã, em relação aos estudos e evolução da Contabilidade Ambiental e Social, é possível perceber congruências nos estudos apresentados, uma vez que as diferentes abordagens convergiram para apresentar e concluir que a contabilidade ambiental está num patamar de vertentes em evolução, porém com abordagens ainda incipientes. E embora ainda haja muita resistência quanto à preocupação com o meio ambiente e a justiça social no âmbito econômico das organizações, os gaps de pesquisa se mostram promissores e motivadas para futuras pesquisas, especialmente com abordagens inovadoras voltadas para a perspectiva crítica e interpretativista.



REFERÊNCIAS

BIERMAN Jr. , H. Measurement and Accounting. Julho, 1963.

CHEN, Jennifer C.; ROBERTS, Robin W. Toward a more coherent understanding of the organization–society relationship: A theoretical consideration for social and environmental accounting research. Journal of business ethics, v. 97, n. 4, p. 651-665, 2010.

DEEGAN, Craig. Twenty five years of social and environmental accounting research within Critical Perspectives of Accounting: Hits, misses and ways forward. Critical Perspectives on Accounting, v. 43, p. 65-87, 2017.

FERGUSON, John; UNERMAN, Jeffrey. Social and Environmental Accounting Research: Homogeneity, Faddishness and Herding at the Expense Social Significance?. 2013.

GRAY, Rob. Accounting and environmentalism: an exploration of the challenge of gently accounting for accountability, transparency and sustainability. Accounting, Organizations and Society, v. 17, n. 5, p. 399-425, 1992.

GRAY, Rob. Current developments and trends in social and environmental auditing, reporting and attestation: A review and comment. International journal of auditing, v. 4, n. 3, p. 247-268, 2000.

GRAY, Rob et al. The greening of enterprise: an exploration of the (non) role of environmental accounting and environmental accountants in organizational change. Critical perspectives on Accounting, v. 6, n. 3, p. 211-239, 1995.

IJIRI, Y. (1975). Theory of accounting measurement. American Accounting Associantion: Sarasota.

MATHEWS, Martin Reginald. Twenty-five years of social and environmental accounting research: is there a silver jubilee to celebrate?. Accounting, Auditing & Accountability Journal, v. 10, n. 4, p. 481-531, 1997.

PARKER, Lee. Constructing a research field: a reflection on the history of social and environmental accounting. Social and Environmental Accountability Journal, v. 34, n. 2, p. 87-92, 2014.


ROBERTS, Robin W.; WALLACE, Dana M. Sustaining diversity in social and environmental accounting research. Critical Perspectives on Accounting, v. 32, p. 78-87, 2015. 

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